sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

As poderosas bactérias da obesidade

Quase todas as semanas temos novas informações e teorias sobre porque as populações de países industrializados estão cada vez mais obesas. A última novidade aponta para as bactérias que habitam nosso intestino. Elas seriam as culpadas pelo excesso de peso em grande parte das pessoas que sofrem desse mal.

Nosso tubo digestivo possui ampla diversidade de bactérias que ajudam na digestão de alimentos, combatem bactérias agressivas que nos invadem provocando a clássica e conhecida "gastroenterocolite" - dor de barriga e diarréia. Os seres humanos, no entanto, propiciam ambientes ricos em nutrição e calor para que as bactérias benignas sobrevivam, estabelecendo uma simbiose útil para ambos.

As pesquisas dos americanos

Pesquisadores verificaram, recentemente, que certos tipos de bactérias são mais eficientes para induzir melhor a digestão e absorção de alimentos ingeridos do que outros "micróbios". Desta forma os alimentos supercalóricos que comemos seriam digeridos e absorvidos com eficiência, transformando-se em gordura e favorecendo a obesidade.

Esta é a parte mais importante do trabalho da equipe Jeffrey Gordon, professor de biologia molecular e farmacologia da Universidade Washington em Saint Louis, nos Estado Unidos. O pesquisador notou que muitas pessoas com excesso de peso apresentam um conjunto de bactérias intestinais que são muito, mas muito mais eficientes em introduzir energia calórica derivada do alimento em digestão, levando estas calorias para dentro do corpo humano.

Firmicutes, as "responsáveis"

Gordon e sua equipe dividiram as bactérias intestinais em dois grupos: firmicutes e bacteroidetes. Mostraram que os obesos possuem proporção muito mais elevada de firmicutes em comparação aos indivíduos de peso normal. As firmicutes são capazes de converter carboidratos complexos, os chamados de polissacarídeos (que usualmente não digerimos), em açúcares simples como a glicose. Em resumo aquele alimento que seria mandado embora sem ser digerido passa, graças às firmicutes, a ser absorvido e utilizado para gerar mais gordura.

Os pesquisadores também fizeram experiências em ratos. Dividiram as cobaias em dois grupos: os ratos com bactérias intestinais normais e os ratos nos quais eliminaram as firmicutes. Em seguida forneceram aos animais dieta rica em gordura e açúcares. Bingo! Os ratinhos sem bactérias firmicutes permaneceram esbeltos enquanto os outros ganharam peso. A conclusão é óbvia: desde que haja mais comida e mais carboidrato as bactérias firmicutes mandam para dentro do corpo um excesso de calorias destinadas a formar mais gordura.

O que podemos fazer então?

Primeiro temos que aceitar que as bactérias intestinais são parceiras importantes no processo digestivo do ser humano e de um número enorme de animais. A supressão de bactérias intestinais "engordativas" poderia ajudar na crescente onda de obesidade, mas ainda não sabemos se outros problemas irão surgir. Portanto, por enquanto, vamos tratar de comer menos carboidrato, limitar gordura e fazer muito exercício. E calma, porque logo, logo, alguém vai inventar um "remédio" para acabar com as firmicutes.


Veja OnLine - FEV 2007