sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dietas e mais dietas: qual a melhor ?

Não se passa um mês sem que as revistas, tanto as que lidam com beleza e moda, como as que informam sobre boa forma física, publiquem um texto sobre DIETA. É um assunto inesgotável, conversa de todos os dias. "Você ouviu falar da dieta milagrosa do chá verde?" O tema faz parte das fofocas dos cabeleireiros, dos salões de beleza e dos intermináveis telefonemas entre as amigas. "A Verinha perdeu 5 quilos com a nova dieta de soja transgênica – sem fazer força nenhuma".

Além desta enorme corrente de informações trocadas entre as mulheres existem ainda os livros de dietas. Maravilha, perde-se algumas gramas só na antecipação de folheá-los na livraria, mesmo antes de verificar se eles valem a pena. Os títulos são sugestivos: Dieta do Dr. Jenkins, da Praia do Sul, a que promete que "só é gordo quem quer", a que insinua que a dieta é só contar pontos, a dos tipos sanguíneos, a que segue fases da lua, a exclusivista (só comer maçãs por 7 dias) e por aí vai. Um rápido levantamento na internet indica que existem 1.786 títulos de livros de dieta somente nos Estados Unidos (boa parte traduzida para o português).

O mercado para os livros de dieta

As estatísticas informam que 45% das mulheres e 30% dos homens, nos Estados Unidos, tentam perder peso. Portanto o mercado para este tipo de livros é totalmente comprador. Nada de coisas banais como "bife e salada". O público gosta, mesmo, de algo mais sofisticado com um toque oriental, ou algo místico, com exclusão total de um ingrediente nutricional, com muita gordura, sem carboidratos, com muita proteína, com detalhes técnicos como "chá verde, após a refeição, acaba com as calorias que você comeu".

Nesta complexa montanha literária e pseudocientífica o público leigo se confunde. Os livros de dieta passam de moda, pois o novíssimo método dietético é o que mais dá resultado, é a novidade. Infelizmente quase sempre o fator novo, o milagroso efeito emagrecedor, é de duração efêmera.

Alguns fundamentos têm argumentação científica

A famosa dieta do Dr. Atkins (publicada inicialmente em 1973 e depois em 1992), que libera as gorduras e proíbe ferozmente todos carboidratos, vendeu mais de 10 milhões de cópias. Todavia nunca foi testada cientificamente, isto é, nunca se comparou dois grupos de pessoas obesas, sendo um submetida à Dieta Atkins e outro grupo, chamado controle, a uma dieta hipocalórica, balanceada. A idéia de remover os açúcares, as farinhas, as batatas e os doces no sentido de induzir perda de peso é antiga. Vários livros de dieta adotaram esta modalidade de regime, com aparente sucesso junto ao público. Faltava uma comprovação científica de que "dietas pobres em carboidratos" eram realmente úteis na orientação nutricional dos que querem perder peso.

Os cientistas decidiram testar dois grupos de obesos comparando, por um ano, a perda de peso com uma dieta convencional (hipocalórica, níveis elevados de carboidrato, gordura e proteína) e com uma dieta com baixo teor de carboidrato, muita proteína e teor normal de gordura. Notaram que as pessoas com excesso de peso na dieta pobre em carboidratos perderam mais peso aos 3, 6 e 9 meses de dieta comparativamente àqueles que estavam na dieta convencional. No entanto após 12 meses, os dois grupos de obesos apresentavam perda de peso semelhante, isto é, decorrido um ano não havia diferença entre comer pouco carboidrato ou seguir uma dieta balanceada.

A decisão é pela rapidez no resultado

É óbvio que todos que se propõem a perder peso querem ver resultados rápidos. Neste sentido a dieta pobre em carboidratos mostrou-se mais eficiente. A longo prazo (12 meses) o estudo mostra que dietas convencionais atingem o mesmo resultado. Mas quem quer esperar 12 meses para ter um resultado quando a sua melhor amiga vem perdendo peso mais eficientemente em apenas 6 meses? Você é quem decide, desde que lhe seja dada a opção pela famosa "dieta das proteínas" e exclusão dos abomináveis carboidratos. Boa sorte!

Veja OnLine - ABR 2007

terça-feira, 10 de abril de 2007

Bulimia e anorexia, fantasmas da atualidade

Recente estudo pediátrico realizado na Grã-Bretanha revelou que em um ano 206 meninas pré-adolescentes (até 12 anos) relataram aos médicos que tinham sérios problemas de alimentação com "virtual pavor" de engordarem. Elas usavam métodos conhecidos da disfunção chamada bulimia, ou seja, abuso no uso de laxativos, provocavam vômitos após refeições e evitavam alimentar-se em público. E o mais incrível: entre o grupo de meninas havia uma criança de apenas 6 anos! A bulimia, tão discutida e temida atualmente, faz parte do grupo de "moléstias da nutrição" e causa sérios distúrbios na saúde da adolescente, no seu relacionamento com a família e no ambiente escolar, podendo até levá-la à morte. Todos nós já tivemos ocasião de saber pelo noticiário de jornais e emissoras de TV casos decorrentes da ditadura instalada pelo universo da moda. Um universo capaz de convencer meninas de que "magreza nunca é demais".

Prevalência dos distúrbios da alimentação

preocupação com o peso e a aparência chega cada vez mais cedo às adolescentes de hoje. Estatísticas indicam que de 40% a 60% das garotas de 2° grau na Austrália fazem algum tipo de "dieta" para perder peso. O mesmo número porcentual surge em inquéritos nutricionais realizados nos Estados Unidos, onde 55% das meninas declararam que estavam em dieta para perder peso e tinham muito medo de engordar. Estes números refletem o fato de que o modelo feminino de beleza é representado na mídia pela magreza excessiva. É um padrão tão implacavelmente imposto que nunca se ouviu falar tanto em doenças de distúrbios alimentares como agora.

A bulimia já é considerada um problema de saúde pública em sociedades de países desenvolvidos. Pesquisas recentes informam que cerca de 3 a 4, em cada grupo de 1.000 adolescentes, sofram da doença nesses países. A anorexia nervosa é a terceira perturbação mais comum entre adolescentes. Há pelo menos de 10 a 12 meninas com a doença em cada grupo de 1.000.

Uma razão química para a Anorexia Nervosa

O tubo digestivo está em constante ‘diálogo’ com o cérebro. Assim que o alimento chega ao estômago a parede estomacal manda uma mensagem ao cérebro dizendo: "Pare, já temos alimento aqui para digerir". Simultaneamente o intestino ao receber o alimento (pré-digerido no estômago) manda substâncias químicas (PYY, GLP-1) aos centros cerebrais induzindo a saciedade. Verificou-se, muito recentemente, que as meninas com anorexia nervosa têm exagerada produção destas substâncias que induzem saciedade e portanto perdem a fome e o interesse na comida.

Fenômenos sócio-culturais estão na base de tudo

Em vez de se falar em distúrbios nutricionais, talvez possamos dizer que estamos lidando com problemas de dietas absurdas, nas quais as adolescentes, as jovens e até mulheres maduras buscam, a qualquer preço, chegar a um tipo de figura feminina extremamente magra, com corpo perfeito, medidas ideais, sem nenhum defeito cutâneo ou subcutâneo (como a famosa celulite). Não é só um problema para médicos resolverem, é uma questão da sociedade em geral. Toda essa busca pela perfeição da aparência não pode ser isolada de aspectos emocionais que surgem de uma idéia fantasiosa em relação ao corpo que cada pessoa deve ter. Os psiquiatras afirmam que estes tipos de doenças são, basicamente, distúrbios afetivos nos quais a depressão também tem papel importante.

O risco médico da Anorexia Nervosa

A anorexia nervosa é uma condição clínica muito séria, com efeitos danosos na saúde e com risco de mortalidade que pode atingir 20% das pacientes em 10 anos (inanição, arritmias cardíacas, falta de potássio, excessiva acidez da circulação, suicídio). Por outro lado, os resultados de tratamento médico com vários esquemas terapêuticos, a que se associa a psicoterapia, indicam que cerca de 40% a 60% dos pacientes podem vir a atingir peso normal. A obsessão por dieta, todavia, é difícil de eliminar, persistindo em 67% das pacientes. Quanto mais longo for o tempo de instalação da doença, mais difícil é a recuperação integral da paciente.

É preciso, portanto, que os pais estejam atentos às meninas que tenham aquele medo obsessivo de "engordar", evitando alimentar-se junto à família, mostrando ansiedade, insônia e sintomas de depressão. Todos são sinais da fase inicial de anorexia nervosa. Procurem um médico, apelem para auxílio psiquiátrico, verifiquem a necessidade de auxílio medicamentoso o mais cedo possível, porque quanto mais precoce for a intervenção melhor o prognóstico para retornar a normalidade. .

Veja OnLine - ABR 2007

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Hormônio de Crescimento

O sistema de produção de hormônios do corpo humano obedece um aspecto cronológico bem estabelecido em relação aos anos de vida de uma pessoa. A tireóide e a hipófise já começam a trabalhar na vida fetal. Os hormônios sexuais (testosterona para o sexo masculino e estradiol para o feminino) têm importante papel na indução dos órgãos genitais de homens e mulheres. As glândulas supra-renais também são ativadas já no recém-nascido, proporcionando controle do metabolismo dos sais e água.

A hipófise e sua grande importância

A hipófise secreta, entre outros, o hormônio do crescimento, conhecido também por sua sigla em inglês, como GH (growth hormone). A produção do GH ocorre principalmente durante a infância e a juventude, sempre com maior ênfase durante a noite, quando as crianças estão dormindo (secreção em surtos ou picos noturnos). O hormônio de crescimento cumpre exatamente o seu papel – ele faz crescer os ossos e aumenta a estatura da pessoa. É, também, um hormônio anabólico, ou seja, distribui a gordura acumulada, forma mais músculo, e possivelmente eleva a performance física de um atleta. Com o passar da idade a secreção desse hormônio vai diminuindo gradativamente a cada década após os 20 anos. Portanto um indivíduo de 50 ou 60 anos tem secreção de GH baixa.

O uso do hormônio de crescimento por atletas

O GH também é muito usado entre alguns atletas para obter maior desempenho físico. Nesses casos, considerando-se que o crescimento ósseo da pessoa já esteja completo, o uso de hormônio provocará o crescimento de extremidades - as mãos (os anéis ficam apertados, os dedos engrossam), os pés (os sapatos passam a ficar apertados), a face (a mandíbula se alonga, o nariz aumenta, os supercílios tornam-se grossos). O nome a que se dá a tantas e variáveis alterações é um aspecto acromegalóide (acros = extremidade, mega = grande). O atleta sob efeito das altas doses de hormônio poderá apresentar mãos enormes e pés avantajados, o que lhe dará nítida vantagem em esportes como natação competitiva, luta livre, boxe e outras modalidades.

A tentação de ter o desempenho garantido

Uma pesquisa clássica, muito citada no meio médico, revela que mais de 50% dos atletas de elite concordariam em usar hormônio(s) que pudessem elevar sua capacidade atlética. Eles diriam SIM aos hormônios desde que tivessem garantia de que a chance de ganhar competições fosse real (nos próximos 5 anos) e que não seriam apanhados pelos testes antidoping das Olimpíadas ou outros eventos esportivos.

Estudos recentes indicam que 3,5% dos atletas americanos usaram hormônio de crescimento em doses elevadas de 3 a 8 mg diariamente por várias semanas, meses antes de eventos esportivos internacionais. Suspeita-se que em outros países este porcentual possa ser ainda mais elevado devido à falta de informações. Mais ainda: cerca de 25% de atletas que usaram substâncias anabólicas (geralmente hormônios tipo masculino ou androgênicos) também usaram, concomitantemente, 10 mg intramuscular de GH diariamente, o que é uma superdose de GH.

O controle está cada vez mais sofisticado

Quando o atleta usa o hormônio de crescimento, sua glândula hipófise deixa de fazer o GH interno e este fato pode ser detectado por exame. A mensuração do GH interno (produzidas pela hipófise do atleta) foi implementada nas Olimpíadas de 2004. Como geralmente o atleta faz uso de GH muito antes da competição, a melhor forma de verificar é dosar uma substância produzida pelo fígado sob ação direta do GH- essa substância é a IGF-1. Se o IGF-1 estiver muito elevado na circulação: o atleta usou GH ilicitamente. Outra forma é medida de produtos do metabolismo do colágeno os quais são marcadores do uso de GH, isto é, surgem no sangue valores elevados de produtos metabólicos do colágeno. Novos testes estão sendo aperfeiçoados para indicar o uso abusivo de GH tais como expressão de genes que normalmente não estão ativos sem a presença de GH elevado. Este teste é excelente pois nos informa se o atleta em alguma época de sua vida usou hormônio de crescimento.

Como sempre, o crime não compensa

O crime de usar abusivamente hormônios para melhorar o desempenho atlético não compensa. Não só porque hoje técnicos e médicos possuem formas eficientes de detectar o uso, mas principalmente porque, além de ilícito, o GH traz sérias conseqüência à saúde do atleta, como aumento do volume do coração, pressão alta, manifestações articulares e possibilidade de indução de câncer no sistema digestivo. Não compensa mesmo!!!

Veja OnLine - ABR 2007