sábado, 31 de maio de 2008

Pressão alta e obesidade

A elevação da pressão arterial acima de níveis normais é o fator de risco mais importante para as doenças cardio-vasculares, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença renal crônica. Os levantamentos populacionais, realizados no Brasil indicaram fatos curiosos.

Pressão arterial acima de 140 X 90 mmHg encontrava-se presente, na população examinada, entre 22,3% (São Paulo) a 43,9% (em Araraquara).

Os gaúchos de Porto Alegre apresentavam hipertensão em 26% dos examinados, enquanto que outra cidade do interior de São Paulo, Cotia, os hipertensos constituíam 44% da população.

Não existe uma explicação clara e definitiva sobre esta variação, até porque a pesquisa não inclui avaliação de aspectos como sexo, etnia, fatores sócio econômicos, obesidade e sedentarismo.

Mas a mensagem principal deste tipo de levantamento é importante: no mínimo cerca de um terço da população adulta está com pressão elevada e não tem noção desta perigosa anomalia.

Por outro lado, cerca de metade dos pacientes que já se sabem hipertensos não mostram aderência ao tratamento instituído e sequer seguem as instruções do médico para mudar o estilo de vida.

Ainda neste quadro desalentador observou-se que apenas 10% dos hipertensos, cuidadosos no uso da terapêutica recomendada, exibiam níveis normais de pressão arterial.

Medida da pressão arterial

O método mais utilizado para a medida da pressão arterial é o chamado indireto, no qual o aparelho portátil (aneróide) é colocado no braço e o estetoscópio na localização da artéria braquial. Os aparelhos de parede contendo a coluna de mercúrio são os mais precisos e, portanto, menos susceptíveis a estarem descalibrados.

Os aparelhos eletrônicos de leitura fácil e manejo simplificado (não necessitam de estetoscópio) evitam erros relacionados ao observador e são muito úteis no uso doméstico para controle da pressão arterial. A posição recomendada para medir a pressão arterial é a sentada. Alguns profissionais medem P.A. em ambos os braços.

Em alguns pacientes é importante mensurar a P.A. na posição ortostática (de pé) e, a seguir deitada para verificar a queda de pressão com a mudança de posição (queda de P.A. quando se levanta bruscamente).

Mais raramente, em casos de Pressão Arterial elevada se recomenda a Mensuração Ambulatorial de Pressão Arterial (M.A.P.A.) na qual o paciente fica com o aparelho ligado ao antibraço por 24 horas tanto na vigília como durante o soro.

Crianças e idosos podem ter valores P.A. diferentes dos adultos jovens. Tabelas especiais indicam os valores normais.


A obesidade e a Pressão Arterial

A impressão dos leigos é que todo obeso deve ter P.A. elevada e ser, e forma automática, um candidato aos transtornos cardiovasculares. Nem sempre isso é verdade, pois muitos obesos mórbidos apresentam P.A. dentro de valores normais. A obesidade, por si mesma, é fator de risco para a hipertensão.

Os obesos, tipo Andróide com proeminente volume abdominal, cintura acima de 100cm, pernas relativamente pouco volumosas, perfazendo o tipo de chamado de "maça" são os que terão P.A. elevada. Além disso, este tipo de obesidade andróide possui outras alterações conhecidas:

• Presença de gordura no fígado (esteatose)
• Níveis de insulina plasmática elevada • Excesso de colesterol e derivados
• Tendência a diabetes tipo 2

Todos estes fenômenos associados são chamados de Síndrome Metabólica e a boa notícia é que a queda do peso corporal leva a normalização rápida da P.A. bem como de outros fenômenos patológicos.

A explicação de pressão alta em obeso andróide

Os cientistas estudaram as artérias pequenas e médias dos obesos andróides com insulina elevada e que tinham pressão alta. Notaram que a camada muscular das artérias estava muito aumentada em comparação com artérias de indivíduos normais.

O aumento do músculo arterial irá, forçosamente, diminuir o diâmetro do "tubo arterial" ou, em outras palavras a "luz" do vaso. Como as artérias ficam mais estreitas (o músculo arterial cresce) a pressão dentro dos vasos aumenta.

Este fato hidrodinâmico é muito conhecido em Física. A boa notícia é que apenas com 10% de perda ponderal, decréscimo da insulina plasmática e melhora da gordura depositada no fígado, progressivamente o músculo arterial pode voltar a ser de tamanho normal e a hipertensão irá ser controlada com mais facilidade e com menos remédios.

Portanto, hipertensão em obesos exige perda de peso, mudança de hábitos de vida, realização de um programa de atividade física e dedicação à prescrição médica. voltar


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Qualidades medicinais do vinho

A incidência de doenças cardíacas entre os franceses é significativamente mais baixa do que entre americanos e ingleses. Há muito tempo sabemos dessa estatística, mas foi em 1992 que o médico Serge Reinaud publicou um interessante trabalho na revista Lancet, com suas conclusões a respeito do comportamento do francês à mesa.

Apesar de os gauleses comerem fígado gordo de ganso, usarem muita manteiga, adorarem uma costela de carneiro, e se deliciarem com batatas fritas, nunca apresentaram altos índices de doenças do coração em comparação aos nervosos, apressados e agitados americanos.

Ainda de acordo com a pesquisa de Reinaud, os franceses, italianos, portugueses e espanhóis (todos tradicionais bebedores de vinho tinto, assim como os franceses) apresentavam índice de mortalidade por infarto de miocárdio quatro vezes menor que os anglo-saxões, calculando-se o número de eventos cardíacos por grupo de 100.000 habitantes de cada país.

O trabalho causou um certo espanto na União Européia, pois os alemães e austríacos, que sempre preferiram o vinho branco, não pareciam se beneficiar das excelentes qualidades medicinais e protetoras do vinho tinto do grupo do Mediterrâneo. A chave do segredo, portanto, estava no consumo do vinho tinto de forma regular durante as refeições.

A propriedade miraculosa do vinho

Só em 2006, no entanto, é que tomamos conhecimento de que existe no vinho tinto um produto químico, de nome complicado, chamado resveratrol (para facilitar vamos abreviar para restrol). Esta substância já era conhecida pelos botânicos e pertencem ao grupo dos flavonóides. São elas que dão ao vinho nuances de cor, sabores especiais, sensações gustativas de adstringência e aromas.

Estes flavonóides têm, em geral, no ser humano, propriedades vaso-dilatadoras e antioxidantes. Esta última qualidade é importante porque todas nossas células do corpo, em suas funções específicas, consomem energia, produzem agentes químicos e hormônios, liberam calor, mas ficam com resíduos chamados "radicais livres" (o "lixo" das células).

O corpo deve ser livrar, rapidamente, destes radicais livres fazendo uma oxidação neutralizadora. Daí a vantagem de darmos uma mãozinha ao metabolismo usando oxidantes como os flavonóides do vinho, vitamina C, beta-caroteno, selênio e zinco entre outros. Mas vamos voltar ao resveratrol (ou restrol).

O doutor Sinclair, da Universidade de Harvard, EUA, e seus colaboradores começaram a estudar os benéficos efeitos desta molécula. Eles verificaram que a adição de restrol a uma colônia de leveduras (S. Cerevisiae) em contínuo crescimento aumentava em 70% o tempo de vida útil destes fungos. Admirados, os pesquisadores tentaram verificar o efeito do restrol em um conhecido verme (C. elegans) e constataram que a adição diária do produto à alimentação do animal, aumentava a longevidade do C. elegans.

Outros pesquisadores notaram que o restrol aumenta em 30% o tempo de vida da famosa mosca-da-fruta (Drosófila). Por aí se constata que esta maravilhosa molécula química pode aumentar o tempo de vida de seres vivos, pelo menos em estudos laboratoriais.

O efeito salutar do vinho na área cardiovascular

Há muito tempo os médicos reconhecem que a inflamação crônica de artérias, com depósito de colesterol, induz doenças graves tanto no coração (infarto do miocárdio), como na área cerebral (acidente vascular cerebral).

Este entupimento de importantes artérias depende de vários fatores conhecidos: obesidade de longa duração, hábito de fumar, pressão alta, presença de diabetes não controlado e sedentarismo.

A artereosclerose e suas conseqüências a longo prazo é a mais evidente e freqüente causa de óbito em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Como reduzir o avanço das alterações físico-químicas que levam a este "engrossamento" de artérias? Existem boas provas científicas de que os flavonóides podem diminuir a formação de ateromas (placas dentro de artérias).

Em países nos quais a população toma vinho tinto regularmente existe menor mortalidade por doenças cardíacas causadas pelo entupimento de artérias. Um estudo realizado em 13.000 pessoas adultas mostrou que outras bebidas alcoólicas não possuem esta propriedade, ou seja, somente o vinho tinto, em doses moderadas (cerca de 2 copos por refeição principal) mostra efeito benéfico na redução do infarto de miocárdio e acidentes vasculares cerebrais.

Outros cinco estudos populacionais, em diferentes países (Estados Unidos e União Européia) confirmam este fenômeno. Para finalizar um estudo publicado na revista Circulation revela que a dieta do Mediterrâneo (peixe, frutas, vegetais, grãos e vinho tinto), comparativamente à tradicional dieta norte-americana (hambúrgueres, batatas fritas, salgadinhos e pizza), reduz em 70% o risco de doenças coronarianas em período de observação de 4 a 5 anos.

O resveratrol não está presente em todos os vinhos

É evidente que os benefícios do vinho são diretamente relacionados à concentração do resveratrol no líquido final oferecido ao consumidor.

Os enólogos descobriram que esta substância química é uma defesa da uva a agentes agressivos como fungos. Tudo indica que o resveratrol está em maior concentração em vinhos produzidos a partir de uvas Pinot Noir e Merlot. Estas uvas com casca mais fina são mais suscetíveis de serem atacadas por fungos.

O resveratrol produzido, por sua vez, protege a uva do ataque fúngico. Decorre deste fato que vinhos de uva Pinot Noir e Merlot terem maior concentração deste maravilhoso elemento químico (resveratrol).

E os vinhos brancos? Geralmente não contém o restrol, mas alguns enólogos obtiveram vinho branco com cerca de 40% dos flavonóides do vinho tinto, simplesmente deixando o suco de uva recém-fermentado em contato com as cascas por um certo tempo. Já é um bom começo para quem gosta de vinho branco. Mas tinto ou branco, o consumo moderado de vinho faz bem à saúde, sem deixar de lado, é óbvio, uma alimentação saudável e o exercício físico.


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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Nem todos os obesos são iguais

O aspecto físico de distribuição de gordura em obesos apresenta óbvias diferenças entre homens e mulheres. Os homens tendem a acumular gordura no abdômen, com pouca adiposidade nos glúteos e nas pernas (obesidade tipo maçã), enquanto boa parte das mulheres concentra o tecido adiposo no abdômen inferior, coxas e glúteos com o formato tipo pêra.

Essas observações já têm algum tempo, mas com o passar dos anos, notou-se que esta distribuição padrão de gordura, de acordo com o sexo, não era uma regra. Muitas mulheres têm gordura abdominal proeminente com manto gorduroso minimamente glúteo-femural, assemelhando-se à obesidade andróide.

Alguns homens gordos podem, também, ter distribuição feminina de gordura. Assim chegamos ao final do século 20 com a noção de que a obesidade predominantemente abdominal é a mais perigosa. Isto porque exames radiológicos sofisticados (como a tomografia abdominal) mostraram que os pacientes com barrigas enormes acumulam apreciável volume de gordura visceral, isto é, entre as alças intestinais.

Esta gordura visceral é muito perigosa pois gera lipoproteínas (gordura associada com proteína) que podem acelerar e induzir placas de colesterol nas artérias, invadem o fígado, fazendo-o ficar cheio de gordura (esteatose hepática) e causam resistência à ação da insulina. A insulina embora presente na circulação tem dificuldade em agir no músculo, no sentido de induzir a glicose circulante a penetrar na massa muscular.

O conceito da Síndrome Metabólica

Todos os fenômenos explicados acima já eram observados pelos endocrinologistas. Mas este conjunto de alterações, no decorrer do tempo de vida do paciente, levava, com enorme freqüência a morbidades perigosas como hipertensão arterial, excesso de colesterol e respectivos derivados no sangue, propensão para apresentar diabetes, e presença de esteatose hepática (fígado gorduroso) com sinais de que o fígado não comportava tanta gordura no seu interior.

Portanto os pacientes com este conjunto de alterações foram classificados como portadores de Síndrome Metabólica, um rótulo que tenta reunir em dois vocábulos todo um conjunto de alterações no metabolismo do açúcar (glicemia), da insulina, do colesterol e suas conseqüências.

Neste ponto os cardiologistas começaram a observar que os portadores da famosa obesidade abdominal apresentavam uma alta prevalência de fenômenos de insuficiência das coronárias - as artérias que nutrem o músculo cardíaco.

O "entupimento" de uma artéria coronária pode levar a dor aguda no peito (angina pectoris) e, progressivamente, levar a sinais de que pouco oxigênio está chegando ao músculo cardíaco (insuficiência coronária).

Deste conjunto de sintomas ao infarto é um curto espaço de tempo.

Como é feito o diagnóstico

Todos esses sintomas e sinais são fruto de observação clínica, do exame cuidadoso do paciente e de exames laboratoriais de rotina que indicam elevado nível de colesterol, talvez glicemia um pouco alta, insulina plasmática acima do normal, fígado gorduroso etc.

No início de todas estas alterações o coração pode estar pouco afetado e ter apenas algum problema com a pressão alta. Mas faltava aos médicos um tipo de exame específico que confirmasse a presença da Síndrome Metabólica.

Muito recentemente pesquisadores da Universidade de Harvard, em Boston, mostraram que uma proteína chamada Proteína Carreadora do Retinol-4 (ou em inglês Retinol-binding protein 4 ou RBP-4), produzida por células adiposas abdominais encontra-se muito elevada na circulação dos obesos com resistência à ação de insulina. São os obesos tipo maçã, geralmente com cintura proeminente, altos valores de colesterol e triglicérides na circulação e queda do colesterol "bom" isto é, do HDL colesterol.

Com o resultado desta pesquisa podemos agora diagnosticar com maior precisão os obesos que têm Síndrome Metabólica e que potencialmente apresentam maior risco para doença coronariana, pois todos apresentam níveis elevados de RBP-4.

O que fazer para manter-se saudável

A redução do peso, mesmo que não seja nenhuma maravilha (cerca de 10% do peso corporal), a realização de exercícios aeróbicos, todos os dias, de forma leve, porém sistemática, a queda da resistência à ação da insulina, conduziram à significativa redução da concentração de RPB-4 no sangue, levando à menor prevalência de diabetes e, sem dúvida, à menor risco cardiovascular. Portanto: perca peso e faça exercício antes que as coronárias "fiquem entupidas".

Mantenha o nível circulatório de RBP-4 dentro de valores normais.


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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Pouco sono, mais obesidade

Um estudo conduzido nos Estados Unidos indica que a média de horas de sono tem decrescido em paralelo com a curva ascendente de obesidade e diabetes. A pesquisa aponta que o americano médio dormia cerca de 8 a 9 horas por noite em 1960 e que este excelente período de repouso noturno decresceu para cerca de 7 horas em 1995. Hoje observa-se que 30% dos adultos (entre 30 e 64 anos) estão com menos de 6 horas de sono por noite, o que tem sido considerado por fisiologistas como totalmente insuficiente para repouso noturno. Médicos que estudaram a relação entre privação de sono e mecanismos metabólicos concluíram que:

-A falta de sono leva a maior resistência à ação de insulina (possível futuro com diabetes).
-A falta de sono induz as células do pâncreas (células beta) a deixarem de produzir mais insulina, quando o corpo já apresenta resistência à insulina.
-A falta de sono faz com que as células adiposas reduzam a produção do hormônio leptina, que é um poderoso indutor central de menor ingestão de alimento.

Estes três aspectos metabólicos são, em seu conjunto, indutores de obesidade.

Vamos esclarecer, de uma forma menos técnica, porque a falta de sono conduz à obesidade. Dormir pouco aumenta a insulina na circulação. Este hormônio responsável pela entrada do açúcar (glicose) no músculo tem ações na célula adiposa. Ele aumenta a geração de gordura a partir do que comemos e impede a queima de gordura quando gastamos energia. As duas ações combinadas levam à obesidade.

Aspectos práticos da pesquisa sobre sono

Como há muito "gasto" de insulina com a privação do sono é evidente que, um dia, o pâncreas cansa e deixa de fabricar insulina de forma adequada, havendo a possibilidade de surgir o diabetes.

Este risco de diabetes aumenta consideravelmente se o obeso é do tipo comedor noturno.
Este tipo obeso é comum no dia-a-dia do endocrinologista e as recentes pesquisas sobre a falta de sono só acrescentam argumentos convincentes de que o obeso deve ter horas de sono adequadas, e desde que necessário sob intervenção medicamentosa.

A equipe de cientistas que estudou o assunto está, agora, ampliando a pesquisa para verificar se o aumento de horas de sono poderá diminuir a curva ascendente de obesos em determinados grupos.
É uma pesquisa interessante e importante tanto em nível individual como populacional.
Por enquanto você deve se prevenir: durma mais, coma menos e mantenha o peso adequado.


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terça-feira, 27 de maio de 2008

Adoçante "engorda" ?

Experiências com ratos nem sempre são aplicáveis a humanos.
Um artigo científico publicado recentemente na revista Behavioural Neuroscience por dois pesquisadores da Universidade de Purdue, Indiana, EUA, levou a grandes discussões – e confusões -, muitas delas reproduzidas na imprensa. No trabalho científico, os pesquisadores americanos testaram dois grupos de ratos durante cinco semanas.

Ao primeiro grupo de animais, os cientistas ofereceram iogurte adoçado com açúcar comum (sacarose). Ao segundo grupo, eles deram iogurte adoçado com sacarina. O objetivo era avaliar a quantidade de ingestão dos alimentos com açúcar em comparação à quantidade dos alimentos com sacarina.

Durante o decorrer das cinco semanas os biólogos notaram que os ratos ingeriam mais iogurte com sacarina do que os outros que tinham acesso ao iogurte açucarado. Enorme surpresa, pois todo mundo sabe que a sacarina, adoçante descoberto no final do século 19, tem sabor adocicado, mas deixa no paladar uma sensação de amargo. Para nós, seres humanos, o uso exclusivo de sacarina foi substituído por outros adoçantes que não têm este gosto amargo no final.

Além da surpresa de verificar que os ratos comiam mais o iogurte com sacarina, os pesquisadores verificaram ainda que os animais comedores de sacarina estavam ganhando peso. Neste ponto da pesquisa poderíamos pensar: será que rato gosta mais do sabor amargo da sacarina do que o doce do açúcar? É algo a ser considerado.

A questão da energia potencial do alimento

Mas os pesquisadores não pararam neste ponto. Passaram a medir dados bioquímicos relativos ao acúmulo de energia alimentar nos dois grupos de animais. Obviamente os roedores que se alimentavam de iogurte com açúcar receberam mais energia calórica (pela sacarose) do que os ratos que consumiam sacarina (que não tem valor calórico nenhum).

Os cientistas afirmaram que os ratos usaram o seu "computador central". As áreas cerebrais que controlam o metabolismo energético (tanto entrada de energia como gasto energético) ao verificarem que o iogurte com açúcar era mais calórico enviavam ordem para que os roedores ingerissem menor quantidade do iogurte, pois o açúcar consumido já bastava para o gasto energético daquele dia.

Ao contrário, quando as áreas cerebrais detectavam que a ingestão de iogurte com a sacarina não cobria a necessidade calórica, induziam os ratos a comerem mais e mais iogurte. Ao fim de cinco semanas, os roedores da sacarina haviam ganho peso.

Uma grande crítica ao trabalho foi apresentada neste ponto: os autores do trabalho deveriam ter acrescentado ao desenho da pesquisa um terceiro grupo de animais ao qual seria oferecido apenas iogurte natural (sem açúcar e sem sacarina).

Este grupo seria um controle adequado para testar as conclusões da pesquisa.


A validade das conclusões para humanos

Embora as conclusões dos pesquisadores sejam adequadas e mesmo atraentes para o comportamento dos roedores, é preciso cautela.

A explicação do ganho de peso para os ratos que ingeriram sacarina é ainda pouco convincente.

Suponhamos, por hipótese, que o rato tenha um paladar que aceita melhor o amargo da sacarina do que o doce do açúcar. A explicação para o ganho de peso seria apenas uma questão de melhor aceitação da sacarina com maior ingestão pelo animal.

Mais uma vez repetimos: o ser humano é bem mais complexo que o rato e simples experiências de refeições A ou B podem não ser totalmente aplicáveis a nós.


Os adoçantes engordam ou não engordam?

Esta conclusão que, apressadamente, alguns setores da mídia tentaram tirar deste artigo científico é totalmente errônea.

O uso de adoçantes para substituir o açúcar visa não só baixar o total calórico ingerido, mas também evitar que o pâncreas produza mais insulina, hormônio vinculado à maior formação de gordura a partir das refeições que fazemos.

Portanto, para muitos obesos ou para pessoas com tendência a diabetes o açúcar e alimentos que o contém são contra-indicados. Na opinião de muitos endocrinologistas o uso de adoçantes é um precioso auxílio nutricional para corrigir a crescente prevalência de obesidade no mundo atual.


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terça-feira, 20 de maio de 2008

Comer de 3 em 3 horas emagrece?

A sensação de fome surge depois de um período de várias horas sem alimentação. É quando costumamos dizer coisas como "estou com um vazio no estômago", ou "minha barriga está roncando de fome". Há séculos já se sabe que o nosso aparelho digestivo, de alguma forma, envia sinais para a área cerebral avisando sobre a falta de comida.

Algumas pessoas podem passar longas horas sem comer, sempre atarefadas, absorvidas em suas atividades, pressionadas para terminar uma tarefa, um projeto, um importante trabalho.

Nestas ocasiões o sinal do estômago pode falhar, mas o mais provável é que o cérebro esteja tão ocupado, tão ativo e tão concentrado no trabalho, que deixa de receber os sinais desesperados do estômago vazio.

O comum é que a grande maioria das pessoas acorde com certa fome e faça o café da manhã, que pode ser frugal (o mais comum em nossos hábitos alimentares) ou muito copioso (como "break-fast" dos anglo-saxões). Mas há crianças, adolescentes e adultos que afirmam "não sentir fome de manhã", que não conseguem comer nada assim que saem da cama.

Nesses casos, possivelmente os sinais do estômago não estão sendo emitidos ou o sistema central já se acostumou com a idéia de que não é necessário comer nesse período do dia.

Estas pessoas estão totalmente erradas sob o ponto de vista nutricional. O sistema metabólico, pela manhã, ainda está lento após horas de sono. Para que inicie os procedimentos de "queima" calórica, é necessário que o alimento chegue ao tubo digestivo.


Os sinais químicos do tubo digestivo

O estômago, quando vazio por período superior a 4-5 horas passa a produzir uma substância chamada GHRELINA que é portadora da mensagem ao cérebro: "nada chegou aqui sob forma de alimento. Por favor, ligue e ative o Centro da Fome". Habitualmente nós obedecemos a esta mensagem e sentamos à mesa para a refeição programada.

No caso da pessoa não atender a "mensagem" do cérebro o teor de GHRELINA vai se elevando na circulação atingindo níveis muito elevados. Na próxima refeição, o apetite será voraz, a fome será imensa e a pessoa vai exagerar no total de calorias ingeridas.

Além disso, o nível de GHRELINA muito elevado, conduz ao fato de que boa parte do alimento ingerido será transformado em gordura, isto é, em reserva calórica. Tal procedimento tem sua lógica, pois o nosso extraordinário corpo humano, após um jejum prolongado, tem a preocupação de "armazenar" energia sob forma de gordura, pois não sabe se os jejuns irão se repetir.

Sabendo-se desse mecanismo, médicos e nutricionistas concordam que o melhor é fracionar nossas refeições diárias (o conceito de comer de 3 em 3 horas tão em moda atualmente).

Na prática este sistema muito rígido pode não funcionar. O que se aconselha, portanto, é fazer o café da manhã adequado (não exagerando), comer no intervalo da manhã um copo de gelatina, alternando com queijo, peru defumado e outros alimentos protéicos. Almoçar no horário previsto, comer mais um queijo branco à tarde, jantar e uma barra de cereal à noite. Com este sistema mantém-se a GHRELINA em nível baixo e menor quantidade de gordura seria armazenada.

A importância dos impulsos químicos do intestino

Quando a ciência médica já sabia tudo a respeito da GHRELINA gerada pelo estômago, vários pesquisadores notaram que algumas regiões do intestino delgado também enviavam mensagens ao cérebro. Estas substâncias químicas (PYY, GLP-1) foram denominadas de incretinas, pois, além de avisar o cérebro que teria chegado material alimentar volumoso para digerir e absorver, excitavam o pâncreas a produzir mais insulina (podendo ser úteis no diabetes).

Fundamentalmente a GLP-1 excita o Centro da Saciedade fazendo com que a pessoa tenha aquela sensação de plenitude alimentar e interrompa o ato de comer. Mas é preciso saber alguns detalhes. No caso do glutão comer depressa demais a GLP-1 não é formada e não irá avisar o cérebro. Portanto muita atenção: é preciso comer devagar.

Outro ponto importante: a ingestão de doces, sorvetes, chocolates, bolachas, pão de queijo, etc., os chamados carboidratos de elevado índice glicêmico, não são estimuladores da secreção da GLP-1 e, portanto, ficar comendo "tranqueiras" o dia todo não leva à saciedade almejada.

Recomenda-se, portanto, que as refeições fracionadas, entre as principais do dia a dia (café da manhã, almoço e jantar) sejam alternadas com pequenas porções de proteínas (queijos brancos, peru defumado, barras protéicas, gelatina).

As proteínas são grandes estimuladoras da secreção de GLP-1 e, conseqüentemente, têm capacidade de induzir saciedade.

Com maior saciedade a aderência a uma dieta hipocalórica é mais fácil e a perda do excesso de peso mais fácil de ser atingida.

Experimente e comprove.

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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Obesidade e distúrbios respiratórios

Todo familiar que tem uma pessoa obesa em casa reclama de problema de ronco.
Com o aumento exagerado, progressivo e alarmante da obesidade no mundo, desde as nações mais desenvolvidas até as chamadas emergentes, alguns problemas dos obesos ainda estão à espera de solução.

A presença de roncos, sonoros, em tom elevado, persistentes e incômodos é a queixa principal do cônjuge. É um que pode interferir na vida conjugal. Muitos casais chegam a dormir em camas separadas ou até em quartos separados.

Houve, nos últimos anos, um grande desenvolvimento no diagnóstico e tratamento dos distúrbios respiratórios sono-dependentes. O conjunto dos sintomas e sinais deste conjunto fisiopatológico foi denominado de Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS).

Apnéia (parada respiratória momentânea do sono)

As pausas respiratórias durante o sono, chamadas pelos médicos, de apnéia ou hipopnéia, são definidas como uma redução temporária de passagem de ar pelas vias aéreas superiores com duração mínima de 10 segundos.

Este tipo de pausa respiratória pode ocorrer muitas vezes durante o sono do obeso. A prevalência é elevada chegando a cerca de 10% da população obesa masculina, nos homens de 30 a 60 anos.

As mulheres obesas sofrem relativamente menos com a apnéia - 4%. Em estudos populacionais verifica-se que em obesos mórbidos, a proporção de homens com SAOS é de 50% dos pacientes.

Nesse quadro, também três vezes mais comum em homens que nas mulheres. A razão porque os homens são mais afetados é principalmente anatômica. Os homens apresentam obesidade central, isto é, na barriga, tronco, pescoço, com pouco acúmulo de gordura nos glúteos, pernas e braços.

O pescoço curto e grosso dificulta a passagem do ar quando o obeso se deita, favorecendo os roncos e, à medida que o sono se aprofunda, a apnéia ou hipopnéia.

Sintomas diurnos das dificuldades respiratórias

Todos nós já presenciamos a clássica sonolência excessiva do obeso. É muito comum a presença da "soneca" após a refeição do almoço ou do jantar (ou mesmo durante a refeição), quando o obeso se senta com a família para ver televisão.

Após alguns minutos, a cabeça se reclina para traz ou tomba para para um "soninho" que dura uma hora ou mais. No ônibus, no táxi, como passageiro de lotações, trens urbanos o obeso não resiste à suave trepidação e "embarca" no sono.

Em casos mais avançados o obeso passa a "dormitar" mesmo em conversa com o seu inter-locutor e, algo mais grave, pode ter uma sonolência quando o carro que dirige tem parada obrigatória no sinal vermelho ou na fila do pedágio. Desnecessário dizer (mas muito importante pelas conseqüências) é que esta sonolência é muito mais intensa se houver ingestão de bebidas alcoólicas.

A falta de aporte de oxigênio ao cérebro irá causar sintomas de dificuldade de memorizar fatos recentes, falhas ao tentar se lembrar de nomes, datas, números, problemas de entendimento, compreensão e raciocínio lógico.

Estudos conduzidos por neurologistas confirmam que o obeso apresenta dificuldade para certas funções complexas como planejamento em seu trabalho, execução de tarefas que exigem raciocínio apurado e conseqüentemente aprendizado lento e dificultoso.

Os motivos que levam o obeso a estes sintomas

A fisiologia, isto é, o estudo da função respiratória no obeso aponta para várias falhas anatômicas e funcionais das vias aéreas superiores.

A obesidade causa modificação geométrica destas vias de passagem do ar, altera o controle da musculatura da região e diminui a sensibilidade de estruturas sensíveis ao gás carbônico, o qual é normalmente expelido na expiração (quando soltamos o ar dos pulmões).

Normalmente quando inalamos o ar (respiramos) aproveitamos o oxigênio para o metabolismo de nossas células.

A circulação trás de volta o gás carbônico, produto do trabalho celular o qual é expelido na expiração. A retenção de gás carbônico nos pulmões (e no organismo) induz uma necessidade de acelerar os movimentos dos pulmões.

Mas o obeso faz isso de forma lenta, pois os seus centros de controle respiratório estão acostumados a teores elevados de gás carbônico.

Quando se estuda, com detalhes, as vias aéreas respiratórias do obseo nota-se que as paredes laterais da faringe estão "grossas" e espessadas dificultando a saída do ar dos pulmões.

Os médicos definem estes fenômenos como duas conseqüências básicas:

Baixa entrada de oxigênio (HIPOXIA). Elevada retenção de gás carbônico (HIPERCAPNIA)


O diagnóstico e tratamento da Apnéia

Usa-se a polisonografia realizada em vários centros hospitalares na qual o paciente é ligado a aparelhos que medem a sua capacidade de entrada e saída de ar, número de apnéias durante o sono, grau de retenção de gás carbônico e outras alterações na troca de gases (oxigênio e gás carbônico).

Claro que o tratamento deve visar a diminuição de peso, de forma personalizada e eficiente. É importante saber se a função de tireóide está normal porque o tratamento do hipotireoidismo melhora muito a apnéia do sono.

O uso de um aparelho que "bombeia" ar sob pressão positiva para os pulmões leva a resultados excelentes. Este aparelho, chamado de CPAP (Continuous Positive Airways Pressure), alarga as vias aéreas superiores, "força" a entrada de ar nos pulmões e permite maior e melhor saída do gás carbônico.

Como que por milagre as apnéias e os roncos desaparecem, melhora a função cognitiva (memória, rapidez de raciocínio), diminui a sonolência durante o dia e tudo causa um entusiasmo no paciente. Sem dúvida, os familiares e sobretudo, o cônjuge, são os primeiros a elogiarem e aplaudirem os rápidos avanços.

Alguns efeitos colaterais, desconforto físico, rinite e boca seca são bastante leves e suportáveis.

A aderência do paciente é de 70% dos casos e poucos necessitarão de procedimentos mais complexos como cirurgia ou usos de medicamentos específicos para estímulo respiratório.

O CPAP, sem dúvida, resolve o grande problema do obeso: torna-o sociável, alegre, comunicativo e alerta, levando-o a ter melhor qualidade de vida.


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