segunda-feira, 22 de junho de 2009

A FOME OCULTA: FALTA DE NUTRIENTES ESSENCIAIS

Chamamos de Fome Oculta aquela que não vemos na aparência do que se ingere no dia a dia. Hoje, as pessoas consomem alimentos sem se preocuparem, por exemplo, se são ricos em vitamina A, ou ferro, ou se existe iodo para a tireóide.

No entanto a falta permanente dos chamados micro-nutrientes essenciais leva a sérios distúrbios em várias áreas do nosso organismo. Sabemos, por exemplo, que os navios da época dos descobrimentos (séculos 15 e 16) não podiam armazenar frutas e legumes frescos, ricos em vitamina C.

Seus marujos tinham com frequência o escorbuto, com sangramento de gengivas, queda de dentes, e outros males para o organismo. Mais tarde, já no século 19 identificaram-se anemias devidas a falta de ferro, alterações do sistema neurológico por falta de iodo e bem mais tarde, já no século 20, as alterações em nosso corpo devido à falta de vitamina D, do ácido fólico e de zinco, selênio e outros minerais.

Aspectos gerais da deficiência de vitamina A A vitamina A, também conhecida como ácido retinoico ou mais exatamente como um grupo químico chamado de retinoides é encontrada em abundância no fígado (bovino, caprino, suíno) na gema de ovo, no leite integral.

Os pigmentos naturais de cor laranjada chamados de carotenos se encontram em cenoura, brócoli, espinafre e em frutas muito conhecidas como tomate, mamão e papaia. Os carotenoides são considerados como precursores da vitamina A, sendo transformados nesta importante vitamina dentro do nosso metabolismo diário.

A vitamina A é muito importante para a função visual, pois é essencial para a síntese da substância conhecida como rodopsina que é parte integrante dos elementos de nossa retina. A falta de vitamina A leva a cegueira noturna ou perda da visão durante a noite, além de várias lesões da retina (constituindo um conjunto de doenças da visão).

Além disso, a deficiência da vitamina A altera a capacidade reprodutiva da mulher, com abortos espontâneos e alterações no fígado do recém nascido. A vitamina A é essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança, desde o período fetal até a adolescência. No adulto a vitamina A tem excelente poder antioxidante isto é, de combater radicais livres (perniciosos para o metabolismo celular). Infelizmente a deficiência de vitamina A atinge mais de 250 milhões de habitantes no nosso planeta e a Organização Mundial de Saúde tem programas específicos para sanar esta deficiência especialmente em gestantes.

A falta de ferro e a anemia crônica Apesar do imenso desenvolvimento dos nossos conhecimentos sobre Fome Oculta, a deficiência de ferro e a anemia crônica atinge 2 bilhões de pessoas no mundo inteiro, sendo a doença carencial mais prevalente ao lado da deficiência de iodo. É óbvio que a falta de ferro está associada à miséria e às condições sanitárias sub humanas, com falta de nutrientes adequados. O ferro faz parte do pigmento vermelho que existe na célula sanguínea chamada hemácia ou glóbulo vermelho.

A hemoglobina, basicamente constituída por ferro, transporta o oxigênio vindo dos pulmões para todos os tecidos do corpo. No caso de não haver ferro não se sintetiza a hemoglobina e surge a anemia (chamada de ferropriva).

A falta de oxigenação eficiente dos nossos órgãos afeta muito a vida fetal. Além disso, a falta de ferro leva ao grave problema de recém-nascidos anêmicos, com pouca probabilidade de vida. Por outro lado os escolares anêmicos têm dificuldade para estudar, para aprender, com grande evasão escolar, e baixa produtividade intelectual.

No Brasil o combate à fome oculta do ferro é realizada de várias maneiras. Uma delas é utilizar tecido bovino, rico em ferro, dessecado (isto é, transformado em pó) adicionando-o a um biscoito de boa palatabilidade. O biscoito enriquecido com ferro é distribuído a escolares fornecendo o indispensável ferro e evitando a anemia.

A falta de iodo causa dano á gestante Na medicina chinesa, séculos antes da nossa era, os médicos receitavam extrato de esponjas marinhas (que hoje, sabemos que têm muito iodo). Mas a deficiência de iodo é altamente prevalente nas áreas montanhosas do planeta. Nos Alpes e nos Andes, na Indonésia, na Índia e na China a falta de iodo induzia a 'bócio' - a tireóide ficava aumentada de volume, formando o que popularmente se chama 'papo'.

Mas o maior problema da falta de iodo é a repercussão negativa na formação do cérebro fetal. Desde que a gestante não receba o mínimo de iodo por dia o cérebro fetal pode ser cerca de 30% menor do que o normal.

A criança terá o que se chama de disfunção cerebral mínima para grave, com possibilidade de debilidade mental, má-escolaridade, formando um conjunto de indivíduos adultos inaptos ao trabalho e de baixas condições sócio econômicas.

Apesar de todos os esforços da Organização Mundial de Saúde cerca de 2 bilhões de pessoas ainda vivem em condições de carência de iodo. A adição de iodo ao sal destinado ao consumo humano é a grande solução para este problema de 'fome oculta'.

Por Geraldo Medeiros 22-06-2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

CHOCOLATE - O BEM E O MAL

O uso medicinal e religioso do cacau originou-se há vários séculos com populações indígenas que viviam na região da América Central - os maias e os astecas. De acordo com a religião destes grupos, o cacau foi uma dádiva dos deuses (Theobroma = dádiva dos deuses). A fruta, com suas sementes e polpa, era utilizada basicamente para preparar bebida.

O líquido era reservado para os homens adultos, da alta hierarquia indígena. O descobridor da América, Cristóvão Colombo, e seus oficiais notaram que os guardas de Montezuma, de tempos em tempos, vinham oferecer ao rei a bebida originária do cacau em cálices de ouro. Perceberam, também, que os guerreiros indígenas, com o uso da bebida produzida a partir das sementes do cacau, adquiriam enorme energia física e sensação de euforia, com a possibilidade de caminhar quilômetros sem cansaço.

Obviamente Colombo mandou para a Europa as sementes de cacau e a polpa da fruta. A partir do pó obtido das sementes fermentadas originou-se o chocolate, sempre servido como bebida estimulante. Hoje nós sabemos que as sementes de cacau são muito ricas em flavonoides, os poderosos agentes antioxidantes.

O chocolate é obtido a partir das sementes de cacau A fruta leva cerca de seis meses para amadurecer. Cada fruta fornece cerca de 45 sementes, que são deixadas para fermentar por cinco dias. Após este período, as sementes fermentadas são deixadas para secar ao sol, adquirindo a coloração marrom escura característica do chocolate.

A manteiga de cacau é a parte oleosa da fruta e não tem as excelentes qualidades medicinais do chocolate obtido a partir das sementes fermentadas. A preparação do chocolate requer que as sementes já fermentadas e secas sejam processadas para formar um líquido viscoso, pastoso pela presença de gordura nas sementes. Por pressão mecânica a gordura é em parte removida e se obtém o chocolate em pó. Para o chocolate tal como nós o conhecemos, o fabricante volta a acrescentar manteiga de cacau e açúcar.

Este chocolate, rico em antioxidante é chamado semiamargo, escuro, com excelentes qualidades medicinais. Estudos científicos conduzidos em muitos centros de pesquisa mundiais são unânimes em afirmar que este chocolate é o que mais apresenta qualidades antioxidantes. A transformação do cacau em alimento delicioso Os fabricantes observaram que o chocolate semiamargo não era tão facilmente agradável ao paladar da maioria.

Ele precisava ser "suavizado" antes de ser vendido. Os holandeses então descobriram método de processamento que transforma o chocolate original em uma substância menos dura e amarga. Adicionaram produtos químicos que tiraram a acidez do chocolate amargo (processo de alcalinar o chocolate). Depois os suíços, belgas e ingleses verificaram que o chocolate alcalinizado poderia ter melhor aceitação ao paladar com a adição de leite e açúcar. Estava, portanto, descoberta esta deliciosa guloseima.

Os americanos são os maiores consumidores deste tipo de chocolate, cerca de 6 quilos por habitante/ano. Acredita-se que o consumo de chocolate represente pouco mais de 1% da dieta diária do americano. Infelizmente este delicioso chocolate nada ou pouco tem a ver com as qualidades medicinais do chocolate semiamargo. Só este último tem excelente atividade antioxidante, anti trombótica e protetora do revestimento de artérias.

O chocolate branco, enganoso e artificial Enquanto o chocolate semiamargo, escuro, pode ser considerado como um alimento sadio, o chocolate branco não apresenta nenhuma das qualidades do chocolate preparado a partir das sementes do cacau. O chocolate branco é preparado a partir da manteiga de cacau, não contendo as qualidades medicinais do chocolate obtido das sementes da fruta.

O tipo branco contém muita gordura, muito açúcar e é altamente engordativo. Deveria ser chamado de "doce de manteiga de cacau" e não "chocolate branco". Estudos recentes também indicam que a adição de leite ou creme de leite ao chocolate reduz substancialmente suas propriedades antioxidantes. Isto se aplica, igualmente, aos achocolatados - bebidas de leite com pó de chocolate, amplamente difundidos no mundo ocidental.

Mitos e verdades sobre o chocolate Na era pré-colombiana os astecas achavam que a bebida de chocolate era altamente afrodisíaca. Ele era consumido em cerimônias de casamento tanto pelo noivo como pela noiva. Hoje sabemos que o chocolate não tem propriedades afrodisíacas.

Ele possui muito pouca cafeína (cerca de 10 miligramas por 50g de uma barra de chocolate). Outro mito é que ele cause enxaqueca e acne. Nada disso ficou provado cientificamente. É possível que o açúcar possa estimular o aparecimento de acne em alguns casos. A mulher e o chocolate O chocolate é uma paixão muito feminina.

Na época pré-menstrual é extremamente comum a mulher dizer que tem necessidade de comer o alimento, que a faz melhorar dos sintomas de irritabilidade, depressão e ansiedade da TPM. O chocolate pode ser um elemento nutritivo causador de dependência. Muitas pessoas não podem viver sem uma dose diária.

Cientificamente sabe-se que o chocolate liga-se a receptores canabinoides nas zonas do cérebro junto ao hipotálamo. Sabe-se que se a pessoa viciada em chocolate cheirar o pó de chocolate obtém certo alívio de sua compulsão pelo produto, pois o pó de chocolate através das narinas atinge os receptores cerebrais e acalmam a vontade de ingeri-lo.

Por Geraldo Medeiros 08-06-2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A GORDURA QUE EMAGRECE

A gordura no corpo humano, assim como em todos os vertebrados, não pode ficar "solta" no meio dos tecidos. Para que isso não ocorra a natureza criou um tipo especial de célula chamada adipocito (adipo = gordura, em grego).

Os adipocitos, no corpo humano, são totalmente diferentes quanto a sua distribuição, localização, variando de acordo com o sexo feminino ou masculino. A distribuição de gordura no sexo feminino é bem característica, localiza-se no abdômen inferior, nas áreas laterais das coxas (culotes) e nos glúteos.

Essa disposição de gordura envolvendo toda a bacia do corpo feminino tem como finalidade a proteção de uma eventual gravidez, pois forma um "colchão protetor" em torno do útero. No corpo masculino a gordura, quando excessiva, se acumula no abdômen.

Aí encontramos dois tipos de células gordurosas. Uma facilmente palpável que é a gordura subcutânea e outra que se encontra entre as alças intestinais, formando cordões de células adiposas -chamadas de gordura visceral. Esta gordura visceral é a mais perigosa, pois produz colesterol e lipoproteínas que irão formar placas de gordura dentro das artérias coronárias.

É consenso unânime entre cardiologistas e endocrinologistas que o acúmulo de gordura abdominal do tipo masculino é aquela que oferece maior risco de futuro problema coronariano, ou seja, o infarto do miocárdio.

As células adiposas secretam vários hormônios e produtos químicos

Dados muito recentes de pesquisas médicas indicam que as células adiposas formam um sistema de secreção de várias substâncias, ligadas à coagulação do sangue, à manutenção do peso, à interligação entre o tecido adiposo e o cérebro, além de hormônios. Um exemplo é o fato de que as células adiposas femininas na época da menopausa passam a formar um hormônio feminino chamado estrona (que é muito semelhante ao estradiol, clássico hormônio feminino).

A produção de estrona pelo tecido adiposo irá aliviar os sintomas desagradáveis da menopausa feminina, aliviando os fenômenos de sudorese noturna e calores. Por outro lado, as células adiposas em ambos os sexos produzem uma substância muito importante chamada leptina. A leptina se dirige ao cérebro onde atua em área especial chamada hipotálamo, avisando que já existe um excesso de gordura acumulada e que o indivíduo deve moderar a ingestão de comida.

Esse circuito bioquímico entre a gordura acumulada e o cérebro funciona muito bem para aqueles felizes seres humanos que são, por natureza, sempre magros. No gordinho parece que a leptina não consegue ter muito sucesso no sentido de comunicar-se com o cérebro, induzindo menor ingestão de calorias. Isso se deve à ausência ou defeito no receptor de leptina no hipotálamo.

Gordura acumulada é reserva de energia

O tecido adiposo é a nossa reserva de energia. Ele fornece "combustível" para que o músculo possa se contrair, utilizando a gordura liberada pelo tecido adiposo. É o que chamamos de "queima de gordura", ou em linguagem médica o gasto energético. A comunidade médica que lida com o problema do excesso de peso está muito interessada em que haja maior gasto energético para propiciar maior "queima" de gordura.

O esquema é bastante simples: quanto mais gastarmos energia acumulada e diminuirmos a ingestão de calorias, maior será a perda ponderal. Existem medicamentos que aumentam o gasto energético, mas com alguns efeitos colaterais inconvenientes. A ciência tem procurado descobrir medicamento que seja bastante eficiente no aumento do gasto energético, mas que não atrapalhe os outros sistemas ou órgãos. Esses produtos (em estudo) são muito semelhantes aos hormônios da glândula tiroide e já estão sendo empregados em pesquisas com pacientes.

O tecido adiposo marrom é um gastador Em roedores (ratos e camundongos) existe grande quantidade de um tecido adiposo muito especial de cor marrom, que se localiza no dorso do animal. Quando o animal é colocado em temperaturas muito baixas, como por exemplo, a 4ºC, imediatamente o tecido adiposo marrom é ativado de forma a gerar calor de forma extremamente eficiente. Em humanos, o tecido adiposo marrom é encontrado em recém-nascidos e durante o primeiro ano de vida.

Da mesma forma que nos animais experimentais, a criança tem nesse tecido uma forma rápida de gerar calor se, por ventura, estiver em ambientes frios. Com o passar do tempo, o tecido adiposo marrom aparentemente se atrofia, sendo raro encontrá-lo em adultos. No começo deste ano, três grupos de cientistas, com trabalhos independentes, confirmaram que o tecido adiposo marrom está presente em todos nós, mesmo na fase adulta da existência.

Da mesma forma que nas crianças, os métodos de imagem capazes de indicar a presença de tecido marrom confirmaram que ele aumenta a sua atividade quando o indivíduo é exposto ao frio. Compararam também as imagens da presença de tecido adiposo marrom em indivíduos de peso normal e em obesos. Verificaram, com grande surpresa, que os obesos tinham quantidades muito pequenas de tecido adiposo marrom, mesmo quando submetidos por algum tempo a temperaturas baixas.

Como o tecido adiposo marrom é uma excelente e eficiente máquina de "queimar gordura", os gordinhos estão em grande desvantagem em relação aos indivíduos magros, pois esses têm uma arma muito poderosa para transformar gordura em calor e, desta forma, manter o peso. Como o tecido marrom queima gordura As células do tecido adiposo marrom possuem um "maquinário celular" preparado para gerar energia armazenada.

No caso de ser acionado, o maquinário se modifica para que essa dissipação de calor seja a mais eficiente possível. Nesse processo, entram em cena os hormônios da tiroide e a formação de uma proteína especial que dirige a energia obtida da gordura corporal para gerar calor.

O processo é tão eficiente que um porcentual enorme da gordura acumulada no corpo é conduzido para a geração de calor. Isso significa um gasto energético excepcional, que se for associado à ingestão calórica diminuída levará a uma perda natural do peso. O problema é que somente os indivíduos de peso normal têm um sistema adiposo marrom altamente competente, enquanto que os gordinhos possuem poucas células deste maravilhoso queimador de gordura.

O passo seguinte, naturalmente, é saber por que os obesos teriam uma relativa atrofia do tecido adiposo marrom. Se nós conseguirmos desvendar este mistério, poderemos passar para o passo seguinte: induzir o aparecimento desse sistema eficiente de queimar gordura. Essas pesquisas recentes nos dão uma excelente perspectiva para a terapêutica da obesidade, seja em crianças ou em adultos, utilizando um mecanismo natural e fisiológico que o nosso corpo já possui.

Por Geraldo Medeiros 01-06-2009