quinta-feira, 28 de junho de 2007

Crescimento infanto-juvenil

Não há dúvida que crianças e adolescentes estão mais altos nesta geração do que em outras anteriores. Boa nutrição, controle de doenças comuns na infância, melhor qualidade de vida, significativos avanços nos projetos sanitários, exercícios e esportes, todos contribuem para que nossos filhos e netos sejam mais altos. Até as gerações de orientais que emigraram para o Brasil, de estatura média baixa, constatam que seus netos são adolescentes atléticos e mais altos que os pais e avós.

Na época do nascimento, os recém-nascidos de termo (isto é, gravidez normal) apresentam estatura de 48 a 53 cm. O crescimento é rápido no primeiro ano (18 a 26 cm) e no segundo ano a criança já cresce de 10 a 13 cm. Desde os dois anos até o início da puberdade a velocidade de crescimento é, mais ou menos, estável, atingindo entre 4 a 6 cm por ano.

Como se dá o estirão de crescimento

Com o início da puberdade tanto as meninas como os meninos têm o chamado "estirão de crescimento". Para as meninas, sempre mais precoces, este estirão representa um acréscimo de 6 a 11 cm na estatura. É aquele período em que os meninos da mesma idade ficam impressionados pelo fato de serem mais baixos que as adolescentes, já com características femininas bem definidas. Mas logo mais os hormônios masculinos são produzidos e os meninos têm o estirão puberal que os leva a ter de 7 a 12 cm a mais na altura. Em ambos os sexos o estirão puberal dura cerca de dois anos, com pico de 12 anos para meninas e de 14 anos para os meninos.

O crescimento não é igual para todos. Os números acima representam uma média do que ocorre na puberdade. Muitas vezes meninas começam a desenvolver seios muito cedo, ao redor de 8 anos, o que chamamos de puberdade prematura. Raramente existe a puberdade precoce com sinais de ação hormonal feminina aos 5 e 6 anos. São casos de diagnóstico e tratamento por médico endocrinologista.

Outras meninas ultrapassam os 12 anos sem sinais de puberdade. Vão apresentar a menarca (primeira menstruação) muito tarde (além dos 14 anos). São as meninas que terão estatura mais elevada. Igualmente os garotos que precocemente desenvolvem voz grossa, pêlos, início de barba, desenvolvimento genital muito cedo (entre 10 e 11 anos) poderão ter menor estatura. Isto porque os hormônios masculinos e femininos "fecham" as áreas de crescimento dos ossos, fazendo com que o crescimento termine devido a esta ação hormonal nas cartilagens de crescimento.

O que os pais devem fazer

O mais importante é ter o acompanhamento da curva de crescimento pelo pediatra. A visita anual ao especialista, que vai aferir a estatura, verificar sinais de puberdade, notar a velocidade de crescimento, é muito importante. No caso da puberdade prematura a consulta ao médico endocrinologista é essencial. Quanto mais cedo a menina (ou o menino) for levada ao especialista, maior será a chance de ter uma estatura normal. Muitas vezes os pais somente se dão conta que o filho(a)) está relativamente baixo em relação aos colegas, amigos e primos, quando a puberdade já está avançada. Resta pouca chance de proporcionar terapêutica adequada, com bons resultados. Quanto mais cedo os pais prestarem atenção ao problema de crescimento, repito, maior é a possibilidade de intervenção positiva e excelentes resultados.

É importante o exame clínico, o histórico familiar, a genética dos progenitores, doenças presentes e crônicas (bronquite asmática, doenças renais e hepáticas) enfim, a história clínico-familiar. Costuma-se também verificar como os ossos estão se desenvolvendo, através de radiografias dos punhos (a idade óssea). Verificamos, igualmente, função da tireóide, exames hormonais, taxas de cálcio, fósforo e enzimas que estimulam o osso a crescer.

Qual o tratamento adequado

É óbvio que o tratamento para crescimento deve ser individualizado. Existem medicamentos que retardam a vinda da primeira menstruação possibilitando maior tempo de crescimento. Existem substâncias que aumentam a síntese e liberação do hormônio de crescimento do (a) adolescente. Finalmente o hormônio de crescimento humano já está disponível para ser aplicado, mas nem todos os adolescentes com baixa estatura irão se beneficiar deste tipo de terapêutica.

Conclusão: quanto mais cedo os pais levarem os seus filhos para avaliar se estão crescendo normalmente, maior a alegria de vê-los adultos de boa estatura.

Veja OnLine - JUN 2007

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Tratamentos alternativos contra obesidade

Com o avanço acelerado da pesquisa genética em seres humanos e o progressivo conhecimento do genoma humano (conjunto de genes), verificou-se que várias doenças, ditas metabólicas, como excesso de colesterol, diabetes, obesidade, doenças da tireóide são devidas a combinações de genes que induzem efeitos indesejáveis.

No caso da obesidade é cada vez mais claro que obesos herdam modificações genéticas que os induzem a ganhar peso, seja por menor queima de gordura, maior transformação do que é ingerido em tecido adiposo, menor dispêndio de energia quando fazem exercício, compulsão por certos alimentos ou combinação destes efeitos. Fatores que, inexoravelmente, leva à obesidade.

Desde que se aceite que a genética tem papel fundamental e importante na origem do excesso corporal, a intervenção medicamentosa terá efeito benéfico enquanto for usada. Com a interrupção do uso de medicamento os genes indutores da obesidade, progressivamente, levam o obeso ao patamar inicial de peso.

Tradicionalmente a Medicina usa cerca de dez a doze remédios para induzir perda ponderal. Muitos pacientes não toleram remédios para emagrecer, outros têm preconceito arraigado contra medicação. Grande parte ainda julga que pode vencer a genética sem ajuda do médico, e vários outros apelam para medicina alternativa, injeções de mesoterapia, recursos fisioterápicos discutíveis, cintas emagrecedoras e vários outros engodos.

Alternativas nem sempre são efetivas

A doutora Rosana Radominski, do Paraná, resumiu em publicação recente as alternativas comumente usadas pelos obesos que se recusam a usar remédios de farmácia, não pensam em realizar cirurgias redutoras do estômago e não planejam mudanças de hábito –alimentação e atividade física. Esses pacientes preferem a medicação alternativa que, embora pouco eficiente, tem sido empregada.

cafeína é uma substância química que se encontra nos grãos de café. Substâncias similares são detectadas no chá preto, no guaraná, no cacau. Todas são estimulantes do sistema nervoso central. Mas além disso a cafeína estimula a secreção de um hormônio chamado adrenalina (que faz o coração bater mais depressa). A adrenalina é estimulador da "queima" de gordura. Decorrente deste fato a cafeína (dependendo da quantidade ingerida) poderia induzir perda de peso pois leva a maior dispêndio da energia acumulada. Detalhe desanimador: a cafeína reduz mais peso em magros do que em gordos.

Substâncias tidas como naturais

Outra substância é a efedrina, extraída de planta da Ásia chamada "ephedra sinica". Outra planta fornece alto similar chamado fenil-efedrina. Ambas elevam a pressão, produzem taquicardia e, em conjunto com a cafeína, podem reduzir o peso. No entanto promovem agitação psíquica, uma vontade de falar sem parar, movimentos incessantes de mãos e dedos, insônia. E a perda de peso? É pequena para tanto efeito colateral.

E a maravilha do chá verde? É uma infusão de uma planta (camellia sinensis), sem prévia fermentação (o chá preto é fermentado). Parece que ajuda na queima do tecido adiposo e, parcialmente, dificulta a síntese de gorduras. Os chineses demonstraram que o chá verde diminui a insulina elevada, modula o apetite, controla o açúcar do sangue e "cura" diabéticos. Portanto, teremos, em futuro próximo, grande ofensiva publicitária, para que os obesos e os diabéticos passem a consumir litros e litros de chá verde, mas a perda de peso desejada não virá apenas com xícaras de chá quente.

Existe, também, no mercado, a quitosana, tida como um inibidor da absorção de gordura ao nível do intestino. Ou seja: coma a feijoada, tome quitosana, e a gordura passa direto, sem ser absorvida. Total engano: estudos bem conduzidos com esta substância extraída de crustáceos, não comprovaram a saída de gordura nas fezes.

É mais uma questão de fé do que de eficácia
E o crômio? Nas academias o picolinato de crômio é vendido às toneladas para aumentar o gasto energético, elevar serotonina cerebral e estimular a síntese de proteínas. Nada disso foi comprovado em estudos clínicos.

As fibras sintéticas (tipo Goma guar) ou naturais (Psillium) estimulam a motilidade intestinal, absorvem parte do colesterol ingerido, e teriam o efeito salutar na saciedade. Prometem perda de peso sustentável, mas podem dar diarréia, inibir absorção de vitaminas importantes como Vitamina A e D, e interferem também na absorção de vários remédios.

Algumas das substâncias referidas teriam um pequeno efeito salutar na tentativa de perder peso. Mas, neste mercado alternativo, existem mais promessas fantasiosas do que realidades palpáveis. Isto sem falar de possíveis efeitos colaterais. Controle sua dieta, caminhe bastante, faça outros exercícios. Só use os "produtos alternativos" se tiver muita fé no seu efeito milagroso. .

Veja OnLine - JUN 2007

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O bom e o mau colesterol

Grande parte da população brasileira conhece o fato de que taxas elevadas de colesterol no sangue aumentam o risco de doenças das coronárias, ou seja, possível infarto do miocárdio. Talvez uma parcela desses brasileiros saiba também que o LDL-colesterol é o mau-colesterol, que o HDL-colesterol é o bom-colesterol. O LDL-colesterol é chamado de mau colesterol porque se deposita na parede de artérias e inicia a formação de placas, que, em estado avançado, irão causar obstrução do vaso. Por outro lado o bom colesterol tem a capacidade benéfica de retirar o colesterol já depositado em placas e trazê-lo de volta ao fígado para processamento e/ou excreção intestinal.

Os resultados de colesterol total circulante devem ser expressos em:
  • Desejável: abaixo de 200 mg/dL
  • Limítrofe: 200 a 239 mg/dL
  • Elevado: acima de 240mg/dL
O LDL colesterol deve ser menor que 100 mg/dL e o HDL colesterol deve ser acima de 40 mg/dL. Como tudo em medicina, esses números, embora seja médias recomendáveis, não se aplicam a todos pacientes. Aqueles com maiores fatores de risco devem manter-se em valores mais baixos de LDL-colesterol.

A importância da dieta alimentar

O colesterol não é o único vilão capaz de levar à doença coronariana. Outros fatores como diabetes, hipertensão, obesidade, vida estressante, hereditariedade são tão ou mais importantes que os níveis de colesterol. Todos sabem que reduzir os níveis de colesterol circulante no sangue é bom para a sobrevida sem doenças vasculares. Mas o que fazer para ganhar essa guerra?

Cuidar da alimentação é um passo básico. A recomendação é diminuir a quantidade e gorduras saturadas - carnes bovina, suína e ovina, produtos com base no leite integral (manteiga, creme, queijos), ovos e gordura de coco. Deve-se usar gorduras mono ou poli saturadas como óleo de oliva, canola, milho, soja, girassol e outros. Outra boa idéia é comer peixe duas vezes por semana. Alguns peixes do mar têm Omega 3 (cárdio protetor) tais como bacalhau, cação, salmão, hadock.

Cuidado também com as vilãs gorduras trans que são encontradas em margarinas, alimentos pré-cozidos, bolos, pipocas, batatas fritas comerciais. Leia com atenção o rótulo do alimento para saber se os salgadinhos que a família está comendo têm gordura trans. Opte sempre por muita fibra (verduras, cereais, saladas) que carregam o colesterol para fora do corpo, no tubo intestinal.

Quando o medicamento se faz necessário


Hoje em dia cerca de 90% dos pacientes com colesterol elevado estão sob orientação médica e tomam todos os dias um comprimido da classe de medicamento chamado de "estatinas". O que fazem estas estatinas? O nosso fígado é uma fábrica noturna de colesterol, LDL-colesterol e HDL-colesterol. Esta fábrica de colesterol no fígado é acionada por genes que em certa fase da vida resolvem iniciar a produção de colesterol ativando uma enzima chamada de HMG-CoA. Esssa enzima controla a produção de colesterol pelo fígado e, estimulada por genes indutores, começa a jogar na circulação uma grande quantidade de colesterol. Neste ponto é que entra a estatina. Esta classe de medicamentos inibe a enzima HMG-CoA, o que reduz de forma dramática a produção do colesterol no fígado. Está resolvido o problema.

É importante, porém que o paciente permaneça atento à boa alimentação. As estatinas existem para deixar a situação sob controle mesmo com eventuais "farras gastronômicas" que todo ser humano tem o direito de fazer, ocasionalmente.

A orientação do médico é sempre essencial

Existem vários estudos, de diferentes companhias farmacêuticas, mostrando que a estatina A é melhor que a B enquanto a estatina C eleva mais o HDL colesterol. Outros estudos indicam que a estatina B é ótima para baixar o triglicérides. Naturalmente as últimas e mais recentes estatinas custam muito mais que as que foram inicialmente lançadas. A dose deve ser determinada pelo médico.

Não há dúvida que as estatinas vieram modificar para melhor a vida, o prognóstico, a prevalência de doenças coronarianas. Foi um enorme salto para qualidade de vida, um ganho da ciência. Não se esqueça, contudo, que você precisa fazer sua parte, além da boa alimentação, o exercício diário é fundamental para um nível alto de HDL-colesterol, o bom colesterol. Caminhe sempre, ande de bicicleta, faça esteira e suba lances de escadas sempre que puder.

Veja OnLine - JUN 2007

domingo, 10 de junho de 2007

Andropausa – Novos conceitos e tratamentos

A associação entre o processo de envelhecimento e o declínio da atividade sexual sempre foi reconhecida por médicos e leigos. A idéia levou, e leva até hoje, muitos homens a buscar substâncias ditas "afrodisíacas", que se propõem, de forma enganosa, a aumentar a libido. Já se provou de tudo nesse terreno: ginseng, yoimbina, erva de São João, pimentas variadas, ouriço do mar, ostras e até chifre de rinoceronte, que quase causou a extinção do pobre animal em algumas regiões do planeta.

Um raio de esperança passou pelos idosos quando um famoso médico francês, Brown-Sequart, afirmou na Academia Francesa, no final do século XIX, que tinha se tornado um atleta sexual graças a injeções de extratos de testículos bovinos, além de ter mais força muscular, excelente energia, e maravilhosa disposição para trabalho. Um engano! O extrato dos testículos bovinos nada tinha de substâncias hormonais masculinas. Os efeitos maravilhosos mencionados era produto da imaginação fértil do cientista idoso.

Em 1935, três pesquisadores ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por sintetizarem o hormônio masculino que recebeu o nome de testosterona. Desde então o "climatério masculino" ou andropausa foi, indiscriminadamente, tratado com este hormônio até que se observaram efeitos danosos no fígado (hepatite tóxica) e na próstata (aumento exagerado prostático, câncer de próstata) além de outros efeitos colaterais. Com o melhor conhecimento da fisiologia masculina (no idoso) tornou-se possível lançar novos conceitos. Hoje se fala em Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM) ou Deficiência Testicular de Início Tardio (DTIT) com o objetivo de mostrar maior clareza e precisão no diagnóstico.

Testosterona total e testosterona livre

Primeiro temos que definir o que seria a falta relativa de hormônio masculino. Os exames de análises clínicas nos permitem dosar o nível de testosterona circulante. No caso de estar abaixo de 280ng/dL aceita-se a idéia de que a "fábrica" de testosterona estaria falhando, mas o problema não é tão simples assim. Sabemos que a testosterona lançada na circulação é transportada por uma proteína chamada SHBG, que libera o hormônio masculino em várias partes do corpo, como no cérebro (libido, indução de atitude e comportamento másculo), na barba e no couro cabeludo (os homens têm mais calvície, são barbudos), junto às partes genitais (estimula áreas erógenas e a sexualidade) e na musculatura (basta olhar a exagerada massa de músculos em profissionais de levantamento de peso). Muito, recentemente, descobriu-se que se pode calcular a testosterona livre, isto é, aquela recentemente liberada do SHBG. Essa testosterona livre seria nosso novo paradigma para afirmar a normalidade do hormônio masculino. Diminuição prolongada deste hormônio livre define o conceito de "deficiência androgênica do envelhecimento masculino".

O fenômeno da andropausa

É óbvio que, à medida que o homem ultrapassa a marca dos 65 anos a aumenta deficiência de hormônio masculino. Três estudos populacionais realizados com idosos indicaram que 34 a 70% dos participantes apresentavam queda da testosterona total e livre. Apenas metade dos idosos apresentava ou se queixava de sintomas tais como queda da energia, perda de musculatura, diminuição da libido, menor atividade sexual e fadiga crônica. Esses estudos mostraram que nem sempre as dosagens hormonais são coincidentes com sintomatologia apresentadas pelos pacientes. Vários idosos, com dosagens relativamente baixas sentiam-se ótimos com todas suas atividades em dia, inclusive as sexuais e, mesmo, com índice de fertilidade (produção de sêmen) adequado.

Tratamento da andropausa

Com esta ampla diversidade na sintomatologia decorrente de níveis baixos de testosterona, a terapêutica da andropausa somente será instituída depois de rigoroso critério clínico. Vários tipos e modalidades de introdução de testosterona estão à disposição do endocrinologista (ou do urologista). Pode-se receitar gel de testosterona a ser aplicado sobre a pele, assegurando nível mais elevado e constante de hormônio. Existem, também, adesivos contendo testosterona, que são colocados sobre a pele (inconvenientes: podem dar irritação local e são visíveis). Injeções de testosterona são de baixo custo, mas elevam bruscamente níveis plasmáticos do hormônio com gradativa queda em 2-3 semanas. É importante salientar que este tipo de reposição hormonal somente poderá ser instituído por médico familiarizado com o problema e o paciente deve ser alertado para eventuais efeitos colaterais. A Andropausa existe, é freqüente, causa sintomas e sinais e pode ser tratada para obter-se melhora da qualidade de vida do idoso.

Veja OnLine - JUN 2007