quinta-feira, 3 de abril de 2008

Os hormônios dos idosos

O número de pessoas com mais de 60 anos é maior a cada censo populacional realizado no Brasil. Em 1950 os idosos eram apenas 4 milhões. Em 2007, já ultrapassam os 15 milhões de brasileiros. A previsão é de que em mais 10 anos teremos cerca de 20 milhões de indivíduos saudáveis na terceira idade. Todos sabemos que não basta atingir uma idade avançada rodeado por netos e bisnetos, é preciso ter qualidade de vida: boa saúde, capacidade cognitiva, memória adequada, articulações que permitam a prática de exercícios condizentes, afetividade, amor, amizade intactas, coração excelente e ausência de sintomas neurológicos. Parece fácil descrever o idoso ideal, mas não disso é possível se os hormônios não estiverem precisamente regulados. Com o avançar da idade, o sistema hormonal já não funciona como antes. A comunidade médica tem atestado, com freqüência cada vez maior, os resultados de reposições hormonais que proporcionam uma dose de "rejuvenescimento", uma certa alegria de viver, disposição, energia e humor.

Ainda de acordo com a pesquisa de Reinaud, os franceses, italianos, portugueses e espanhóis (todos tradicionais bebedores de vinho tinto, assim como os franceses) apresentavam índice de mortalidade por infarto de miocárdio quatro vezes menor que os anglo-saxões, calculando-se o número de eventos cardíacos por grupo de 100.000 habitantes de cada país. O trabalho causou um certo espanto na União Européia, pois os alemães e austríacos, que sempre preferiram o vinho branco, não pareciam se beneficiar das excelentes qualidades medicinais e protetoras do vinho tinto do grupo do Mediterrâneo. A chave do segredo, portanto, estava no consumo do vinho tinto de forma regular durante as refeições.

A desigualdade entre mulheres e homens

O organismo produz o estradiol e a progesterona (na mulher) e a testosterona (no homem) desde o período pré-puberal, elevando esta produção a níveis muito altos na puberdade e por boa parte da vida adulta. Há uma diferença: enquanto o homem mantém a sua secreção de testosterona por décadas seguidas, as mulheres diminuem os níveis dos hormônios femininos depois da menopausa. Não existe consenso entre os médicos nesta questão de reposição hormonal na mulher. Estudos populacionais com milhares de pessoas envolvidas apontam para discreta possibilidade de maior número de casos de câncer, maior prevalência de algumas alterações cardíacas entre as que fazem uso da reposição hormonal. O imenso benefício que o tratamento traz à vida da mulher ultrapassa, a meu ver, as estatísticas dos estudos populacionais.

O frescor da pele, os cabelos e unhas saudáveis, a manutenção do colágeno que sustenta a pele, a libido conservada, o melhor desempenho sexual, a ausência de depressão e maior alegria de viver são algumas vantagens a ser consideradas. Ossos mais fortes, maior quantidade de cálcio no esqueleto, baixo risco de fraturas da articulação coxo femural, sistema muscular, circulatório e cognitivo intactos são vantagens inegáveis para as que tomam o seu hormônio diariamente seja por via oral, transdermica, implantes, ou sob forma de gel cutâneo. Recentemente a Associação Norte Americana de Endocrinologistas Clínicos deliberou que a mulher deve ter o direito de escolher se deseja receber reposição hormonal e reiterou que o risco de fenômenos adversos é mínimo. E o melhor: a maioria dos medicamentos hormonais à disposição do médico não engorda.

A andropausa nos homens

O mesmo raciocínio se aplica aos homens. Existe, sem dúvida, um declínio discreto mas constante no teor de testosterona com o avançar da idade. Essa queda do hormônio masculino pode levar a uma série de sintomas: fadiga crônica, perda de massa muscular, queda de libido, disfunção eréctil e mesmo osteoporose, ou seja, perda de cálcio do sistema esquelético. Hoje o médico tem à sua disposição um verdadeiro arsenal terapêutico para várias modalidades de reposição hormonal no homem: gel cutâneo, colocar adesivo com testosterona e injeções de testosterona. É necessário, todavia, ter total e completo exame da próstata, pois o hormônio poderá, eventualmente, afetar o crescimento deste órgão masculino.

Em países nos quais a população toma vinho tinto regularmente existe menor mortalidade por doenças cardíacas causadas pelo entupimento de artérias. Um estudo realizado em 13.000 pessoas adultas mostrou que outras bebidas alcoólicas não possuem esta propriedade, ou seja, somente o vinho tinto, em doses moderadas (cerca de 2 copos por refeição principal) mostra efeito benéfico na redução do infarto de miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Outros cinco estudos populacionais, em diferentes países (Estados Unidos e União Européia) confirmam este fenômeno. Para finalizar um estudo publicado na revista Circulation revela que a dieta do Mediterrâneo (peixe, frutas, vegetais, grãos e vinho tinto), comparativamente à tradicional dieta norte-americana (hambúrgueres, batatas fritas, salgadinhos e pizza), reduz em 70% o risco de doenças coronarianas em período de observação de 4 a 5 anos.

A falta de cálcio no sistema esquelético

Podemos examinar o conteúdo de cálcio nos ossos por um procedimento não invasivo que se chama densitometria óssea. Existem aparelhos simples, de uso em consultório, que mede o conteúdo de cálcio nos ossos. Quando há discreta diminuição de cálcio chamamos de osteopenia. Quando a concentração de cálcio é bastante baixa nos ossos, o diagnóstico é de osteoporose. Em ambos os casos recomenda-se ao idoso o uso de comprimidos de cálcio a que se associa compostos bifosfonados. Fósforo e cálcio formam osso novo. No caso do paciente poder tomar hormônio feminino ou masculino a recuperação do esqueleto é bastante rápida, prevenindo eventual ocorrência de fraturas no futuro.

Veja OnLine - ABRIL 2008

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Qualidades medicinais do vinho

A incidência de doenças cardíacas entre os franceses é significativamente mais baixa do que entre americanos e ingleses. Há muito tempo sabemos dessa estatística, mas foi em 1992 que o médico Serge Reinaud publicou um interessante trabalho na revista Lancet, com suas conclusões a respeito do comportamento do francês à mesa. Apesar de os gauleses comerem fígado gordo de ganso, usarem muita manteiga, adorarem uma costela de carneiro, e se deliciarem com batatas fritas, nunca apresentaram altos índices de doenças do coração em comparação aos nervosos, apressados e agitados americanos.

Ainda de acordo com a pesquisa de Reinaud, os franceses, italianos, portugueses e espanhóis (todos tradicionais bebedores de vinho tinto, assim como os franceses) apresentavam índice de mortalidade por infarto de miocárdio quatro vezes menor que os anglo-saxões, calculando-se o número de eventos cardíacos por grupo de 100.000 habitantes de cada país. O trabalho causou um certo espanto na União Européia, pois os alemães e austríacos, que sempre preferiram o vinho branco, não pareciam se beneficiar das excelentes qualidades medicinais e protetoras do vinho tinto do grupo do Mediterrâneo. A chave do segredo, portanto, estava no consumo do vinho tinto de forma regular durante as refeições.

A propriedade miraculosa do vinho

Só em 2006, no entanto, é que tomamos conhecimento de que existe no vinho tinto um produto químico, de nome complicado, chamado resveratrol (para facilitar vamos abreviar para restrol). Esta substância já era conhecida pelos botânicos e pertencem ao grupo dos flavonóides. São elas que dão ao vinho nuances de cor, sabores especiais, sensações gustativas de adstringência e aromas. Estes flavonóides têm, em geral, no ser humano, propriedades vaso-dilatadoras e antioxidantes. Esta última qualidade é importante porque todas nossas células do corpo, em suas funções específicas, consomem energia, produzem agentes químicos e hormônios, liberam calor, mas ficam com resíduos chamados "radicais livres" (o "lixo" das células). O corpo deve ser livrar, rapidamente, destes radicais livres fazendo uma oxidação neutralizadora.

Daí a vantagem de darmos uma mãozinha ao metabolismo usando oxidantes como os flavonóides do vinho, vitamina C, beta-caroteno, selênio e zinco entre outros. Mas vamos voltar ao resveratrol (ou restrol). O doutor Sinclair, da Universidade de Harvard, EUA, e seus colaboradores começaram a estudar os benéficos efeitos desta molécula. Eles verificaram que a adição de restrol a uma colônia de leveduras (S. Cerevisiae) em contínuo crescimento aumentava em 70% o tempo de vida útil destes fungos. Admirados, os pesquisadores tentaram verificar o efeito do restrol em um conhecido verme (C. elegans) e constataram que a adição diária do produto à alimentação do animal, aumentava a longevidade do C. elegans. Outros pesquisadores notaram que o restrol aumenta em 30% o tempo de vida da famosa mosca-da-fruta (Drosófila). Por aí se constata que esta maravilhosa molécula química pode aumentar o tempo de vida de seres vivos, pelo menos em estudos laboratoriais.

O efeito salutar do vinho na área cardiovascular

Há muito tempo os médicos reconhecem que a inflamação crônica de artérias, com depósito de colesterol, induz doenças graves tanto no coração (infarto do miocárdio), como na área cerebral (acidente vascular cerebral). Este entupimento de importantes artérias depende de vários fatores conhecidos: obesidade de longa duração, hábito de fumar, pressão alta, presença de diabetes não controlado e sedentarismo. A artereosclerose e suas conseqüências a longo prazo é a mais evidente e freqüente causa de óbito em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Como reduzir o avanço das alterações físico-químicas que levam a este "engrossamento" de artérias? Existem boas provas científicas de que os flavonóides podem diminuir a formação de ateromas (placas dentro de artérias).

Em países nos quais a população toma vinho tinto regularmente existe menor mortalidade por doenças cardíacas causadas pelo entupimento de artérias. Um estudo realizado em 13.000 pessoas adultas mostrou que outras bebidas alcoólicas não possuem esta propriedade, ou seja, somente o vinho tinto, em doses moderadas (cerca de 2 copos por refeição principal) mostra efeito benéfico na redução do infarto de miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Outros cinco estudos populacionais, em diferentes países (Estados Unidos e União Européia) confirmam este fenômeno. Para finalizar um estudo publicado na revista Circulation revela que a dieta do Mediterrâneo (peixe, frutas, vegetais, grãos e vinho tinto), comparativamente à tradicional dieta norte-americana (hambúrgueres, batatas fritas, salgadinhos e pizza), reduz em 70% o risco de doenças coronarianas em período de observação de 4 a 5 anos.

O resveratrol não está presente em todos os vinhos

É evidente que os benefícios do vinho são diretamente relacionados à concentração do resveratrol no líquido final oferecido ao consumidor. Os enólogos descobriram que esta substância química é uma defesa da uva a agentes agressivos como fungos. Tudo indica que o resveratrol está em maior concentração em vinhos produzidos a partir de uvas Pinot Noir e Merlot. Estas uvas com casca mais fina são mais suscetíveis de serem atacadas por fungos. O resveratrol produzido, por sua vez, protege a uva do ataque fúngico. Decorre deste fato que vinhos de uva Pinot Noir e Merlot terem maior concentração deste maravilhoso elemento químico (resveratrol).

E os vinhos brancos? Geralmente não contém o restrol, mas alguns enólogos obtiveram vinho branco com cerca de 40% dos flavonóides do vinho tinto, simplesmente deixando o suco de uva recém-fermentado em contato com as cascas por um certo tempo. Já é um bom começo para quem gosta de vinho branco. Mas tinto ou branco, o consumo moderado de vinho faz bem à saúde, sem deixar de lado, é óbvio, uma alimentação saudável e o exercício físico.

Veja OnLine - ABRIL 2008