segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Impacto mundial da epidemia de diabetes

O problema de pessoas com diabetes na população era considerado de menor importância até meados do século XX. Mas desde 1990 houve um explosivo aumento do número de indivíduos com diabetes, levando a comunidade médica a aceitar que a doença seja provavelmente uma das maiores ameaças à saúde mundial do século XXI. As causas apontadas para esta situação são vida urbana extremamente sedentária, excesso de alimentos altamente calóricos, desenvolvimento progressivo de obesidade, influências genéticas e, possivelmente, algumas alterações nutricionais durante a vida fetal e logo após o nascimento. Em resumo, muita comida associada a nenhuma atividade física irá resultar em obesidade, que poderá ser a porta de entrada para o desequilíbrio do metabolismo do açúcar do sangue, levando ao diabetes.

O fenômeno genético e a causa ambiental
Os cientistas e epidemiologistas que estudam a epidemia de diabetes apontam para dois tipos de teorias para este fenômeno:

1 - O homem é basicamente programado pelos seus genes a ser um poupador de energia, isto é, forma mais gordura do que gasta, porque, em épocas pré-históricas, o homem era essencialmente um caçador. Às vezes tinha muita comida e todos participavam de banquetes, quando a caça fosse bem-sucedida. Muita comida se alternava com períodos de fome. Para que houvesse possibilidade de sobrevivência, genes de nossos ancestrais foram adaptados para “poupar” energia durante a abundância de alimentos, levando a estoque de gordura para períodos de pouca nutrição. Esta adaptação foi essencial para a sobrevivência da humanidade, mas, agora, muito alimento é uma perigosa armadilha que leva à obesidade, e mais tarde ao diabetes.

2 - Outra teoria para o ganho excessivo de peso é baseada na observação de que crianças com baixo peso de nascimento teriam mais risco de serem obesas e terem diabetes. A razão é que a falta de nutrição adequada no período intra-uterino levaria à exacerbação de genes e dispositivos corticais que conduzem o indivíduo a “poupar” energia, isto é, formar mais facilmente gordura.

O que nos mostra o futuro
O número total de pessoas com diabetes era de 110 milhões em 2000 e irá saltar para 210 milhões em 2010, com estimativa de 300 milhões em 2025. No mapa abaixo, os grupos com três números representam a quantidade de pessoas com diabetes (na primeira linha), a estimativa para 2010 (na segunda linha), e o aumento porcentual dos casos de diabetes em cada região.

As elevações porcentuais são alarmantes principalmente nos países em desenvolvimento. Na China haverá aumento de 57% de diabéticos na população. Nos países da África a estimativa é de cerca de 50%, e na América Latina serão 44% a mais de diabéticos. O aumento será de 46% no mundo inteiro. Cerca de 90% dos casos serão do diabetes tipo 2, aquele em que o corpo apresenta resistência em aceitar que a insulina abaixe o açúcar do sangue (resistência à ação de insulina) ou, alternativamente, o pâncreas venha a produzir pouca insulina (exaustão das células beta do pâncreas). Este tipo de diabetes geralmente não precisa receber injeções de insulina, sendo controlável pela perda de peso (em obesos) associada a remédios por via oral, os quais diminuem a resistência à insulina e aumentam a secreção deste hormônio pelo pâncreas.

obesidade infantil está aumentando dramaticamente e o diabetes tipo 2 tem sido encontrado principalmente na população infanto-juvenil com excesso de peso.

O que podemos fazer para melhorar este cenário alarmante
A rápida escalada do diabetes na população pode ser interrompida por mudanças radicais no estilo de vida. Adultos devem perder peso, deixar de comer fast-food, aceitar o fato de que doces, sorvetes, chocolates, bolos e biscoitos (entre tantos outros produtos industrializados) devam ser ingeridos em pouca quantidade e espaçadamente, e se convencer que uma atividade diária de exercício é essencial. São importantes a caminhada matinal, sair freqüentemente da mesa do computador, subir e descer um lance de escada três a quatro vezes, usar transporte público e nos fins de semana fazer esportes com a família. Houve grande sucesso neste programa de mudança de costumes na China e na Finlândia com mudança do estilo de vida – em dez anos, diminuição de 58% de diabetes.

Na Filadélfia (EUA), o prefeito local determinou que balanças fossem colocadas nas vias públicas e que médicos, nutricionistas, preparadores físicos, e outros profissionais, após pesar o indivíduo, insistissem para que mudassem seu estilo de vida. Mas a verdade é que estes estudos e tentativas têm curta duração e somente surtem efeito quando “a casa cai”, isto é, quando surge o diabetes, quando ocorre o infarto do miocárdio, quando há acidente vascular cerebral. A prevenção mais bem-sucedida é junto à população infanto-juvenil, mais sensível aos conselhos médicos e nutricionais. Ultimamente a cirurgia bariátrica (operação do estômago) vem sendo citada como forma bem-sucedida de evitar o diabetes, mas é dispendiosa, tem os seus riscos e nem todos podem ser submetidos a ela.


Veja OnLine - 15-10- 2007

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Conheça mais sobre o que é gordura trans

Desde a década de 60, a comunidade médica alerta a população para o perigo de consumo exagerado de gorduras de origem animal.
Esta gordura – a saturada – é prejudicial ao coração por favorecer o depósito de colesterol em artérias essenciais, tais como as coronárias e os vasos da circulação cerebral. Como alternativa, recomendava-se o consumo de gorduras vegetais, que ajudam o nosso corpo a manter elevado o HDL-colesterol (o bom colesterol) enquanto diminui, na circulação, o mau colesterol (o LDL-colesterol). As gorduras vegetais – insaturadas – têm propriedades de prevenir o depósito de gordura nas artérias.

Algumas são monossaturadas, o que significa que são muito benéficas ao corpo humano (óleo de oliva, canola, amendoim), mas provavelmente têm menor ação nos níveis de colesterol do que os óleos chamados poliinsaturados (óleo de milho, de soja, de girassol).
A conclusão seria óbvia: consumir menos gorduras saturadas e optar por óleos vegetais mono e poli insaturados.

Seus efeitos danosos

 
Tudo o que foi explicado acima foi regra no meio médico e nutricional até o início dos anos 80. Nesta ocasião, verificou-se que os procedimentos industriais de produção dos óleos vegetais insaturados eliminam suas qualidades benéficas em relação ao colesterol.

A vantagem industrial de hidrogenar (adicionar hidrogênio) o óleo vegetal é garantir um sabor melhor ao alimento. Mas este processo industrial modifica a estrutura química do óleo. Em um óleo "bom" natural, os átomos estão distribuídos em posição espacial "paralela" entre si. Depois do tratamento industrial de hidrogenação os ácidos graxos têm os átomos em disposição "diagonal". Daí vem o nome de "gordura trans", pois os átomos estão situados em alinhamento transversal.

O problema do processo industrial

 
Primeiro é importante saber que gordura trans não é sintetizada no organismo humano. É apenas um recurso industrial para obter melhor paladar no produto final destinado ao consumidor.
A gordura trans é altamente prejudicial ao nosso sistema de colesterol "bom" e "mau". Isto porque age como uma "super" gordura saturada (aquela das gorduras animais), elevando o "mau" colesterol e diminuindo o "bom" colesterol, que é responsável pela menor deposição de gorduras nas artérias.

Encontrada em vários alimentos


Grande parte dos produtos industrializados que usam gordura em sua fórmula passou a utilizar a gordura trans. Ela aumenta a validade do produto e torna o alimento final mais "crocante" e saboroso. Isto se aplica a todos os salgadinhos industriais (as batatinhas, pastéis, biscoitinhos, folhados, tortas e bolos), bem como às margarinas, pipocas de microondas, a alguns tipos de chocolate e sorvetes, e principalmente a muito do que se come em cadeias de fast-food.

O alerta dos médicos para o que população estava consumindo levou a medidas de proteção ao consumidor. O fabricante hoje deve informar, no rótulo, se o produto final tem gordura trans em sua fórmula e qual o grau percentual (%) ou em gramas (g) desta substância por unidade do alimento.

O que o consumidor deve fazer ?


Estudos realizados nos EUA indicam que o máximo de ingestão de gordura trans não pode ultrapassar os 20 gramas/dia. As pessoas que apresentam alto risco de doenças vasculares (coronárias, artérias cerebrais), como obesos, diabéticos e aqueles com antecedente familiar de doenças vasculares, devem evitar o consumo de gordura trans ao máximo (isto é, menos de 15 gramas por dia). A meu ver é difícil para o público leigo ler e entender a mensagem nutricional de um alimento que lhe é apresentado para consumo. Muitas vezes o fabricante indica que a gordura trans é menos de 0,2 g por "meio" biscoito, o que é uma armadilha para o consumidor (ninguém come "meio" biscoito). Outro alerta: não sabemos o que a gordura trans faz a crianças pré-escolares e escolares.

A regra de ouro é NÃO fornecer, habitualmente, os alimentos sabidamente portadores de gordura trans a crianças pequenas. Nada de lancheiras com salgadinhos, biscoitos variados, batatinhas fritas e congêneres. Aliás, em nosso país (e muitos outros), já se cogita proibir escolares de consumirem estes produtos na hora do lanche escolar. É uma sábia recomendação, a ser seguida e difundida.

Veja OnLine - 08-10- 2007