segunda-feira, 26 de novembro de 2007

As múltiplas funções da glândula hipófise

A hipófise, ou pituitária, sempre foi alvo de intensa curiosidade para os cientistas, que procuravam descobrir quais são as funções dessa misteriosa glândula, situada logo abaixo do nosso cérebro, na altura do nariz, em direção à nuca.
Na Grécia Antiga, a curiosidade se voltou para a haste que “segura” a hipófise, pela qual a glândula recebe e envia informações ao hipotálamo. Na opinião dos gregos, essa haste transportava o "espírito vital" da corrente sanguínea para o cérebro. Recebia de volta secreção cerebral que descia até a hipófise e seguia até a cavidade nasal como muco (em grego, pituita, daí a nome da glândula).
É admirável saber que há 2.500 anos os gregos já suspeitavam que a pituitária seria um elo entre o cérebro e o resto do corpo humano. Só no fim do século XIX é que se suspeitou que a hipófise poderia secretar hormônios, e que tanto o excesso de certas secreções como a falta de algumas substâncias hormonais poderiam levar a várias doenças já conhecidas na época.

Quais hormônios são secretados pela glândula?

Com o melhor conhecimento da fisiologia da pituitária, notou-se que a famosa haste dos gregos antigos é, de fato, a “ponte” que leva e traz informações vindas de núcleos de células cerebrais na área do hipotálamo. Hoje sabemos que esses núcleos secretam substâncias que estimulam a hipófise a “fabricar” hormônios. Um exemplo da coordenação entre o cérebro e o sistema hormonal é a puberdade. O cérebro já está programado para indicar quando deve começar o estímulo aos hormônios e quando eles têm sinal verde para começar a transformação de uma criança em um adolescente. Gostamos de comparar este complexo sistema a um despertador de relógio.

O despertar da puberdade ocorre quando os núcleos do hipotálamo passam a enviar mensagens bioquímicas para que a hipófise inicie o processo de secretar hormônios -- e estimule os ovários nas meninas e os testículos nos meninos. Desde a vida fetal, no útero materno, a hipófise já funciona estimulando a tireóide a trabalhar por meio da secreção de um hormônio conhecido como TSH. Outro hormônio muito importante ainda na vida fetal é o de crescimento (GH), secretado de forma contínua para que a criança tenha um desenvolvimento normal. A hipófise também controla as glândulas supra-renais por um hormônio chamado ACTH. Outro hormônio, a prolactina, estimula a lactação logo depois do parto.

As notáveis características da hipófise
É impressionante como essa pequenina estrutura é capaz de fazer coisa. Pesando cerca de 600 miligramas, a hipófise é dividida em duas porções: a anterior, ou adenoipófise, que fornece os hormônios que controlam as outras glândulas do corpo, e a posterior, ou neuro-hipófise, que basicamente regula nosso metabolismo quando se trata de água e sais minerais. A glândula, portanto, é um verdadeiro centro de regulagem e manutenção do nosso sistema hormonal. É indispensável desde a vida fetal, para que a criança em gestação tenha o estímulo necessário para começar a produzir hormônios da tireóide.

Eles são absolutamente essenciais para que o recém-nascido tenha crescimento normal e ótimo desenvolvimento cerebral. Da mesma forma, o hormônio de crescimento (GH) é extremamente importante para o estímulo das zonas de crescimento ósseo, mesmo depois do término do período de crescimento da criança e do adolescente. É curioso saber que o GH é secretado à noite, durante o sono da criança, em repetidos picos. Eles são mais freqüentes quando o período de crescimento é mais intenso. O GH também é secretado durante o dia, principalmente quando a criança pratica exercícios aeróbicos.

Entre os outros hormônios regulados pela hipófise está o ACTH, que controla a secreção dos vários hormônios das glândulas adrenais (como a cortisona), importantes no controle dos níveis de sais minerais, como o potássio e o sódio. O LH e o FSH são indutores da puberdade e permitem, na vida adulta, que ocorra a ovulação na mulher. Também estimulam a função hormonal masculina e a produção de espermatozóides. Por fim, a hipófise também produz a prolactina -- que, como o nome indica, está ligada ao estímulo pós-parto para que as glândulas mamárias produzam o leite essencial à nutrição do recém-nascido.

Quando a hipófise funciona pouco (ou demais)
Quando a hipófise provoca uma produção exagerada de hormônio de crescimento antes da puberdade, pode ocorrer o gigantismo. O adolescente cresce de forma rápida e intensa, alcançando estatura digna de figurar no livro dos recordes. Quando o hormônio de crescimento é secretado em profusão na vida adulta, surge um problema chamado de acromegalia. Quando isso ocorre, há crescimento da face, mandíbulas, mãos, pés, órgãos internos (incluindo fígado e coração), vértebras e sistema ósseo em geral. Já a secreção anômala da prolactina pode levar a produzir leite fora do período de aleitamento pós-parto (problema conhecido como galactorréia). Durante a gravidez, a hipófise aumenta de volume, a circulação se amplia e a quantidade de hormônios produzidos se eleva. Logo depois do parto, a hipófise volta ao tamanho normal. Às vezes pode ocorrer um distúrbio circulatório que “destrói” parcialmente a hipófise no pós-parto. Esse fato leva à dramática falta de funções da pituitária, provocando a necessidade de reposição dos hormônios que estão faltando.


Veja OnLine - 26-11- 2007

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Hormônios intestinais que 'emagrecem'

Todo ser humano sabe identificar a sensação de fome. Ela está claramente ligada ao estômago vazio. Expressões populares como "meu estômago está roncando de fome", ou "estou com um buraco no estômago" são evidências de que as pessoas podem facilmente associar o estômago vazio com a necessidade de alimentar-se. Tão evidente quanto a manifestação da fome é a sensação de saciedade após uma refeição adequada.

Os chineses mantêm até hoje um hábito secular. Depois de servir um banquete de 21 pratos (carne, peixe, frango, ninho de andorinhas, barbatanas de tubarão, cristas de galo, etc.) os anfitriões trazem à mesa uma tigela com arroz branco. O arroz simboliza o prato diário, o alimento comum de todas as refeições, comida corriqueira, simples, presente em todos os lares.

Os convidados saciados devem colocar a mão no estômago e dizer: "Obrigado pelo banquete. Nem mais um grão de arroz eu poderia comer!" Assim, além de manifestarem agradecimento e gentileza aos anfitriões que serviram o banquete, os chineses demonstram com gestos e palavras como reconhecem a "saciedade". Mas colocar comida no estômago é apenas o início do processo que faz a fome desaparecer. De acordo com estudiosos da nutrição, fatores químicos gerados no estômago e no tubo digestivo informam o cérebro de que muitas calorias e nutrientes começam a ser absorvidos nesse processo. Daí a sensação de fome ir desaparecendo.

O hormônio que informa sobre a fome

O hormônio Ghrelina é produzido no estômago sempre que este órgão fica vazio, ou seja cerca de duas ou três horas depois da última refeição. Se uma pessoa fica sem ingerir nada por quatro, oito ou mais horas, a concentração de Ghrelina sobe de forma exponencial. Esse hormômio vai aos centros do cérebro e estimula a sensação de fome.

Isso indica aos centros corticais superiores que está na hora de comer alguma coisa. Se a pessoa insiste em não se alimentar a esse primeiro sinal, a produção de Ghrelina eleva-se cada vez mais com maior estimulação da fome. Se a pessoa passou muitas horas sem comer nada – e hoje é comum pessoas ficarem o dia todo ocupadas em tarefas profissionais sem almoçar, por exemplo --, no momento em que sentarem para fazer uma refeição a concentração de Ghrelina estará tão alta que ela direcionará todo o conteúdo calórico ingerido para ser transformado em gordura.

Resultado: ganho de peso contínuo. A pessoa passa horas – às vezes o dia todo – sem comer, faz apenas uma refeição ao dia e engorda sem parar. Por isso a recomendação de médicos e nutricionistas de várias refeições leves ao longo do dia. É uma forma de manter a Ghrelina sempre em níveis normais.

Substâncias que avisam sobre saciedade

Após a chegada do alimento ao estômago e a secreção de Ghrelina abolida, o alimento semidigerido passa ao intestino delgado (duodeno e íleo). Neste segmento do aparelho digestivo existem células secretoras de duas substâncias químicas denominadas por siglas: o PYY e o GLP-1.

São peptídeos, isto é, moléculas pequenas constituídas por uma seqüência de aminoácidos. Quando o "bolo" alimentar chega ao duodeno, o estímulo para a secreção de PYY e GLP-1 estará sendo fornecido às células intestinais que são responsáveis por sintetizar estes dois hormônios. Tanto o volume do alimento quanto a qualidade dos nutrientes são importantes para que o estímulo seja adequado.

Os pesquisadores que estudaram este mecanismo indicam que já no meio de uma refeição balanceada as duas substâncias PYY e GLP-1 iniciam elevação progressiva que atinge o ápice entre 60 e 90 minutos após a ingestão de comida. Ambos os peptídeos vão até os núcleos da fome e saciedade e "desligam" a fome estimulando a saciedade.

Comer devagar é fundamental

Mas atenção: quem come muito depressa, devorando o prato cheio em dez minutos não terá tempo para que os hormônios (PYY e GLP-1) iniciem sua mensagem de saciedade no cérebro.
O resultado é bastante óbvio: o apressado vai repetir o prato, pois o cérebro não teve tempo de receber a mensagem de saciedade. Recomendações: comer devagar, deixar o garfo ao lado do prato, fazer uma pausa entre duas garfadas, dar tempo para que os PYY e GLP-1 mandem mensagem de saciedade aos centros superiores.

Entender como o corpo funciona aos sinais de fome e saciedade é fundamental para que possamos adequar nosso estilo de vida e nossos hábitos alimentares à busca de saúde e boa forma. Nada de passar o dia todo com cafezinhos, pular almoço, permanecer em jejum. Faça as refeições tradicionais, coma bem devagar, mantenha conversação à mesa. Tenho a certeza de que terá melhor digestão e, o que é mais importante, o seu peso vai variar para baixo.


Veja OnLine - 05-11- 2007