domingo, 10 de junho de 2007

Andropausa – Novos conceitos e tratamentos

A associação entre o processo de envelhecimento e o declínio da atividade sexual sempre foi reconhecida por médicos e leigos. A idéia levou, e leva até hoje, muitos homens a buscar substâncias ditas "afrodisíacas", que se propõem, de forma enganosa, a aumentar a libido. Já se provou de tudo nesse terreno: ginseng, yoimbina, erva de São João, pimentas variadas, ouriço do mar, ostras e até chifre de rinoceronte, que quase causou a extinção do pobre animal em algumas regiões do planeta.

Um raio de esperança passou pelos idosos quando um famoso médico francês, Brown-Sequart, afirmou na Academia Francesa, no final do século XIX, que tinha se tornado um atleta sexual graças a injeções de extratos de testículos bovinos, além de ter mais força muscular, excelente energia, e maravilhosa disposição para trabalho. Um engano! O extrato dos testículos bovinos nada tinha de substâncias hormonais masculinas. Os efeitos maravilhosos mencionados era produto da imaginação fértil do cientista idoso.

Em 1935, três pesquisadores ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por sintetizarem o hormônio masculino que recebeu o nome de testosterona. Desde então o "climatério masculino" ou andropausa foi, indiscriminadamente, tratado com este hormônio até que se observaram efeitos danosos no fígado (hepatite tóxica) e na próstata (aumento exagerado prostático, câncer de próstata) além de outros efeitos colaterais. Com o melhor conhecimento da fisiologia masculina (no idoso) tornou-se possível lançar novos conceitos. Hoje se fala em Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM) ou Deficiência Testicular de Início Tardio (DTIT) com o objetivo de mostrar maior clareza e precisão no diagnóstico.

Testosterona total e testosterona livre

Primeiro temos que definir o que seria a falta relativa de hormônio masculino. Os exames de análises clínicas nos permitem dosar o nível de testosterona circulante. No caso de estar abaixo de 280ng/dL aceita-se a idéia de que a "fábrica" de testosterona estaria falhando, mas o problema não é tão simples assim. Sabemos que a testosterona lançada na circulação é transportada por uma proteína chamada SHBG, que libera o hormônio masculino em várias partes do corpo, como no cérebro (libido, indução de atitude e comportamento másculo), na barba e no couro cabeludo (os homens têm mais calvície, são barbudos), junto às partes genitais (estimula áreas erógenas e a sexualidade) e na musculatura (basta olhar a exagerada massa de músculos em profissionais de levantamento de peso). Muito, recentemente, descobriu-se que se pode calcular a testosterona livre, isto é, aquela recentemente liberada do SHBG. Essa testosterona livre seria nosso novo paradigma para afirmar a normalidade do hormônio masculino. Diminuição prolongada deste hormônio livre define o conceito de "deficiência androgênica do envelhecimento masculino".

O fenômeno da andropausa

É óbvio que, à medida que o homem ultrapassa a marca dos 65 anos a aumenta deficiência de hormônio masculino. Três estudos populacionais realizados com idosos indicaram que 34 a 70% dos participantes apresentavam queda da testosterona total e livre. Apenas metade dos idosos apresentava ou se queixava de sintomas tais como queda da energia, perda de musculatura, diminuição da libido, menor atividade sexual e fadiga crônica. Esses estudos mostraram que nem sempre as dosagens hormonais são coincidentes com sintomatologia apresentadas pelos pacientes. Vários idosos, com dosagens relativamente baixas sentiam-se ótimos com todas suas atividades em dia, inclusive as sexuais e, mesmo, com índice de fertilidade (produção de sêmen) adequado.

Tratamento da andropausa

Com esta ampla diversidade na sintomatologia decorrente de níveis baixos de testosterona, a terapêutica da andropausa somente será instituída depois de rigoroso critério clínico. Vários tipos e modalidades de introdução de testosterona estão à disposição do endocrinologista (ou do urologista). Pode-se receitar gel de testosterona a ser aplicado sobre a pele, assegurando nível mais elevado e constante de hormônio. Existem, também, adesivos contendo testosterona, que são colocados sobre a pele (inconvenientes: podem dar irritação local e são visíveis). Injeções de testosterona são de baixo custo, mas elevam bruscamente níveis plasmáticos do hormônio com gradativa queda em 2-3 semanas. É importante salientar que este tipo de reposição hormonal somente poderá ser instituído por médico familiarizado com o problema e o paciente deve ser alertado para eventuais efeitos colaterais. A Andropausa existe, é freqüente, causa sintomas e sinais e pode ser tratada para obter-se melhora da qualidade de vida do idoso.

Veja OnLine - JUN 2007