segunda-feira, 5 de maio de 2008

Obesidade e distúrbios respiratórios

Todo familiar que tem uma pessoa obesa em casa reclama de problema de ronco.
Com o aumento exagerado, progressivo e alarmante da obesidade no mundo, desde as nações mais desenvolvidas até as chamadas emergentes, alguns problemas dos obesos ainda estão à espera de solução.

A presença de roncos, sonoros, em tom elevado, persistentes e incômodos é a queixa principal do cônjuge. É um que pode interferir na vida conjugal. Muitos casais chegam a dormir em camas separadas ou até em quartos separados.

Houve, nos últimos anos, um grande desenvolvimento no diagnóstico e tratamento dos distúrbios respiratórios sono-dependentes. O conjunto dos sintomas e sinais deste conjunto fisiopatológico foi denominado de Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS).

Apnéia (parada respiratória momentânea do sono)

As pausas respiratórias durante o sono, chamadas pelos médicos, de apnéia ou hipopnéia, são definidas como uma redução temporária de passagem de ar pelas vias aéreas superiores com duração mínima de 10 segundos.

Este tipo de pausa respiratória pode ocorrer muitas vezes durante o sono do obeso. A prevalência é elevada chegando a cerca de 10% da população obesa masculina, nos homens de 30 a 60 anos.

As mulheres obesas sofrem relativamente menos com a apnéia - 4%. Em estudos populacionais verifica-se que em obesos mórbidos, a proporção de homens com SAOS é de 50% dos pacientes.

Nesse quadro, também três vezes mais comum em homens que nas mulheres. A razão porque os homens são mais afetados é principalmente anatômica. Os homens apresentam obesidade central, isto é, na barriga, tronco, pescoço, com pouco acúmulo de gordura nos glúteos, pernas e braços.

O pescoço curto e grosso dificulta a passagem do ar quando o obeso se deita, favorecendo os roncos e, à medida que o sono se aprofunda, a apnéia ou hipopnéia.

Sintomas diurnos das dificuldades respiratórias

Todos nós já presenciamos a clássica sonolência excessiva do obeso. É muito comum a presença da "soneca" após a refeição do almoço ou do jantar (ou mesmo durante a refeição), quando o obeso se senta com a família para ver televisão.

Após alguns minutos, a cabeça se reclina para traz ou tomba para para um "soninho" que dura uma hora ou mais. No ônibus, no táxi, como passageiro de lotações, trens urbanos o obeso não resiste à suave trepidação e "embarca" no sono.

Em casos mais avançados o obeso passa a "dormitar" mesmo em conversa com o seu inter-locutor e, algo mais grave, pode ter uma sonolência quando o carro que dirige tem parada obrigatória no sinal vermelho ou na fila do pedágio. Desnecessário dizer (mas muito importante pelas conseqüências) é que esta sonolência é muito mais intensa se houver ingestão de bebidas alcoólicas.

A falta de aporte de oxigênio ao cérebro irá causar sintomas de dificuldade de memorizar fatos recentes, falhas ao tentar se lembrar de nomes, datas, números, problemas de entendimento, compreensão e raciocínio lógico.

Estudos conduzidos por neurologistas confirmam que o obeso apresenta dificuldade para certas funções complexas como planejamento em seu trabalho, execução de tarefas que exigem raciocínio apurado e conseqüentemente aprendizado lento e dificultoso.

Os motivos que levam o obeso a estes sintomas

A fisiologia, isto é, o estudo da função respiratória no obeso aponta para várias falhas anatômicas e funcionais das vias aéreas superiores.

A obesidade causa modificação geométrica destas vias de passagem do ar, altera o controle da musculatura da região e diminui a sensibilidade de estruturas sensíveis ao gás carbônico, o qual é normalmente expelido na expiração (quando soltamos o ar dos pulmões).

Normalmente quando inalamos o ar (respiramos) aproveitamos o oxigênio para o metabolismo de nossas células.

A circulação trás de volta o gás carbônico, produto do trabalho celular o qual é expelido na expiração. A retenção de gás carbônico nos pulmões (e no organismo) induz uma necessidade de acelerar os movimentos dos pulmões.

Mas o obeso faz isso de forma lenta, pois os seus centros de controle respiratório estão acostumados a teores elevados de gás carbônico.

Quando se estuda, com detalhes, as vias aéreas respiratórias do obseo nota-se que as paredes laterais da faringe estão "grossas" e espessadas dificultando a saída do ar dos pulmões.

Os médicos definem estes fenômenos como duas conseqüências básicas:

Baixa entrada de oxigênio (HIPOXIA). Elevada retenção de gás carbônico (HIPERCAPNIA)


O diagnóstico e tratamento da Apnéia

Usa-se a polisonografia realizada em vários centros hospitalares na qual o paciente é ligado a aparelhos que medem a sua capacidade de entrada e saída de ar, número de apnéias durante o sono, grau de retenção de gás carbônico e outras alterações na troca de gases (oxigênio e gás carbônico).

Claro que o tratamento deve visar a diminuição de peso, de forma personalizada e eficiente. É importante saber se a função de tireóide está normal porque o tratamento do hipotireoidismo melhora muito a apnéia do sono.

O uso de um aparelho que "bombeia" ar sob pressão positiva para os pulmões leva a resultados excelentes. Este aparelho, chamado de CPAP (Continuous Positive Airways Pressure), alarga as vias aéreas superiores, "força" a entrada de ar nos pulmões e permite maior e melhor saída do gás carbônico.

Como que por milagre as apnéias e os roncos desaparecem, melhora a função cognitiva (memória, rapidez de raciocínio), diminui a sonolência durante o dia e tudo causa um entusiasmo no paciente. Sem dúvida, os familiares e sobretudo, o cônjuge, são os primeiros a elogiarem e aplaudirem os rápidos avanços.

Alguns efeitos colaterais, desconforto físico, rinite e boca seca são bastante leves e suportáveis.

A aderência do paciente é de 70% dos casos e poucos necessitarão de procedimentos mais complexos como cirurgia ou usos de medicamentos específicos para estímulo respiratório.

O CPAP, sem dúvida, resolve o grande problema do obeso: torna-o sociável, alegre, comunicativo e alerta, levando-o a ter melhor qualidade de vida.


Veja OnLine - MAIO 2008