terça-feira, 10 de outubro de 2017

Andropausa: Novos conceitos e tratamentos

Dr. Geraldo Medeiros

A dificuldade de uma definição adequada
 
A associação entre o processo de envelhecimento e o declínio da atividade viril sempre foi reconhecida por médicos e leigos, levando muitos indivíduos a buscar, incessantemente, substâncias ditas “afrodisíacas” (as quais, enganosamente, se propõem a aumentar a libido) seja do tipo químico, (ginseng, yoimbina, extratos de testículos), obtidas de vegetais, (erva de São João, pimentas variadas), especialidades nutricionais (ouriço do mar, ostras) e até chifre de rinoceronte (quase que levou à extinção do pobre animal). Um raio de esperança passou pelos idosos quando um famoso médico francês, Brown-Sequart, afirmou na Academia Francesa (final do século XIX) que tinha se tornado um atleta sexual com injeções de extratos de testículos bovinos, além de ter mais força muscular, excelente energia, e maravilhosa disposição para trabalho. Ledo engano! O extrato dos testículos bovinos nada tinha de substâncias hormonais masculinas sendo todos os efeitos maravilhosos mencionados produto da fértil imaginação do idoso cientista.

Em 1935, três pesquisadores ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por sintetizarem o hormônio masculino o qual recebeu o nome de TESTOSTERONA. Desde então o “climatério masculino” ou andropausa foi, indiscriminadamente, tratado com este hormônio até que se observaram danosos efeitos no FÍGADO (hepatite tóxica) e na próstata (aumento exagerado prostático, câncer de próstata) além de outros efeitos colaterais. Com o melhor conhecimento da fisiologia masculina (no idoso) tornou-se possível lançar novos conceitos. Hoje se fala em Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM) ou Deficiência Testicular de Início Tardio (DTIT) com o objetivo de mostrar maior clareza e precisão no diagnóstico.


Testosterona total e Testosterona livre


Primeiro temos que definir o que seria a “falta relativa” de hormônio masculino. Para tanto os laboratórios de análises clínicas nos facultam dosar o nível de Testosterona circulante. No caso de estar abaixo de 280ng/dL já se aceita que a “fábrica” de testosterona já estaria falhando, mas o problema não é tão simples assim. Sabemos que a Testosterona, apenas lançada na circulação, deve ser transportada por um “ônibus”, uma proteína chamada SHBG a qual vai liberando o hormônio masculino em várias partes do corpo tais como no cérebro (libido, indução de atitude e comportamento másculo), na barba e no couro cabeludo (os homens têm mais calvície, são barbudos), junto às partes genitais (estimula áreas erógenas e a sexualidade) e na musculatura (basta olhar a exagerada massa de músculos em profissionais de levantamento de peso). Muito, recentemente, descobriu-se que se pode calcular a Testosterona livre, isto é, aquela recentemente liberada do “ônibus” SHBG. Tal Testosterona livre seria nosso novo paradigma para afirmar a normalidade do hormônio masculino. Diminuição prolongada deste hormônio livre define o conceito de “Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino”.


O fenômeno da Andropausa seria mais freqüente do que imaginávamos

É óbvio que, à medida que o homem ultrapassa a marca dos 65 anos a frequência da deficiência de hormônio masculino pode se elevar. Em três estudos populacionais em idosos indicou-se que 34 a 70% dos participantes apresentavam queda da Testosterona total e livre. Surpreendentemente apenas metade dos idosos apresentava ou se queixava de sintomas tais como queda da energia, perda de musculatura, diminuição da libido, menor atividade sexual e fadiga crônica. Por estes estudos se conclui que nem sempre as dosagens hormonais são coincidentes com sintomatologia. Vários idosos, com dosagens relativamente baixas estavam “ótimos” com todas suas másculas atividades em dia, inclusive na esfera sexual e, mesmo, com índice de fertilidade (produção de sêmen) adequado.


Tratamento da ANDROPAUSA

Com esta ampla diversidade na sintomatologia decorrente de níveis baixos de Testosterona, a terapêutica da Andropausa somente será instituída mediante judicioso critério clínico. Vários tipos e modalidades de introdução de Testosterona estão à disposição do endocrinologista (ou do urologista). Pode-se receitar gel de Testosterona a ser aplicado sobre a pele, geralmente à noite, diariamente, assegurando nível mais elevado e constante de hormônio. Existem, também, adesivos contendo Testosterona, que são firmemente colocados sobre a pele (inconvenientes: podem dar irritação local e são visíveis). Injeções de Testosterona são, relativamente, de baixo custo, mas elevam, bruscamente níveis plasmáticos do hormônio com gradativa queda em 2-3 semanas. Atualmente está à disposição da classe médica injeções de Testosterona que duram até 3 meses, facilitando a terapêutica. É importante frisar que este tipo de reposição hormonal somente poderá ser instituído por médico familiarizado com o problema e o paciente deve ser alertado para eventuais efeitos colaterais.Conclusão: a Andropausa existe, é frequente, causa sintomas e sinais e pode ser tratada com melhora da qualidade de vida do idoso.