terça-feira, 27 de maio de 2008

Adoçante "engorda" ?

Experiências com ratos nem sempre são aplicáveis a humanos.
Um artigo científico publicado recentemente na revista Behavioural Neuroscience por dois pesquisadores da Universidade de Purdue, Indiana, EUA, levou a grandes discussões – e confusões -, muitas delas reproduzidas na imprensa. No trabalho científico, os pesquisadores americanos testaram dois grupos de ratos durante cinco semanas.

Ao primeiro grupo de animais, os cientistas ofereceram iogurte adoçado com açúcar comum (sacarose). Ao segundo grupo, eles deram iogurte adoçado com sacarina. O objetivo era avaliar a quantidade de ingestão dos alimentos com açúcar em comparação à quantidade dos alimentos com sacarina.

Durante o decorrer das cinco semanas os biólogos notaram que os ratos ingeriam mais iogurte com sacarina do que os outros que tinham acesso ao iogurte açucarado. Enorme surpresa, pois todo mundo sabe que a sacarina, adoçante descoberto no final do século 19, tem sabor adocicado, mas deixa no paladar uma sensação de amargo. Para nós, seres humanos, o uso exclusivo de sacarina foi substituído por outros adoçantes que não têm este gosto amargo no final.

Além da surpresa de verificar que os ratos comiam mais o iogurte com sacarina, os pesquisadores verificaram ainda que os animais comedores de sacarina estavam ganhando peso. Neste ponto da pesquisa poderíamos pensar: será que rato gosta mais do sabor amargo da sacarina do que o doce do açúcar? É algo a ser considerado.

A questão da energia potencial do alimento

Mas os pesquisadores não pararam neste ponto. Passaram a medir dados bioquímicos relativos ao acúmulo de energia alimentar nos dois grupos de animais. Obviamente os roedores que se alimentavam de iogurte com açúcar receberam mais energia calórica (pela sacarose) do que os ratos que consumiam sacarina (que não tem valor calórico nenhum).

Os cientistas afirmaram que os ratos usaram o seu "computador central". As áreas cerebrais que controlam o metabolismo energético (tanto entrada de energia como gasto energético) ao verificarem que o iogurte com açúcar era mais calórico enviavam ordem para que os roedores ingerissem menor quantidade do iogurte, pois o açúcar consumido já bastava para o gasto energético daquele dia.

Ao contrário, quando as áreas cerebrais detectavam que a ingestão de iogurte com a sacarina não cobria a necessidade calórica, induziam os ratos a comerem mais e mais iogurte. Ao fim de cinco semanas, os roedores da sacarina haviam ganho peso.

Uma grande crítica ao trabalho foi apresentada neste ponto: os autores do trabalho deveriam ter acrescentado ao desenho da pesquisa um terceiro grupo de animais ao qual seria oferecido apenas iogurte natural (sem açúcar e sem sacarina).

Este grupo seria um controle adequado para testar as conclusões da pesquisa.


A validade das conclusões para humanos

Embora as conclusões dos pesquisadores sejam adequadas e mesmo atraentes para o comportamento dos roedores, é preciso cautela.

A explicação do ganho de peso para os ratos que ingeriram sacarina é ainda pouco convincente.

Suponhamos, por hipótese, que o rato tenha um paladar que aceita melhor o amargo da sacarina do que o doce do açúcar. A explicação para o ganho de peso seria apenas uma questão de melhor aceitação da sacarina com maior ingestão pelo animal.

Mais uma vez repetimos: o ser humano é bem mais complexo que o rato e simples experiências de refeições A ou B podem não ser totalmente aplicáveis a nós.


Os adoçantes engordam ou não engordam?

Esta conclusão que, apressadamente, alguns setores da mídia tentaram tirar deste artigo científico é totalmente errônea.

O uso de adoçantes para substituir o açúcar visa não só baixar o total calórico ingerido, mas também evitar que o pâncreas produza mais insulina, hormônio vinculado à maior formação de gordura a partir das refeições que fazemos.

Portanto, para muitos obesos ou para pessoas com tendência a diabetes o açúcar e alimentos que o contém são contra-indicados. Na opinião de muitos endocrinologistas o uso de adoçantes é um precioso auxílio nutricional para corrigir a crescente prevalência de obesidade no mundo atual.


Veja OnLine - MAIO 2008