segunda-feira, 1 de junho de 2009

A GORDURA QUE EMAGRECE

A gordura no corpo humano, assim como em todos os vertebrados, não pode ficar "solta" no meio dos tecidos. Para que isso não ocorra a natureza criou um tipo especial de célula chamada adipocito (adipo = gordura, em grego).

Os adipocitos, no corpo humano, são totalmente diferentes quanto a sua distribuição, localização, variando de acordo com o sexo feminino ou masculino. A distribuição de gordura no sexo feminino é bem característica, localiza-se no abdômen inferior, nas áreas laterais das coxas (culotes) e nos glúteos.

Essa disposição de gordura envolvendo toda a bacia do corpo feminino tem como finalidade a proteção de uma eventual gravidez, pois forma um "colchão protetor" em torno do útero. No corpo masculino a gordura, quando excessiva, se acumula no abdômen.

Aí encontramos dois tipos de células gordurosas. Uma facilmente palpável que é a gordura subcutânea e outra que se encontra entre as alças intestinais, formando cordões de células adiposas -chamadas de gordura visceral. Esta gordura visceral é a mais perigosa, pois produz colesterol e lipoproteínas que irão formar placas de gordura dentro das artérias coronárias.

É consenso unânime entre cardiologistas e endocrinologistas que o acúmulo de gordura abdominal do tipo masculino é aquela que oferece maior risco de futuro problema coronariano, ou seja, o infarto do miocárdio.

As células adiposas secretam vários hormônios e produtos químicos

Dados muito recentes de pesquisas médicas indicam que as células adiposas formam um sistema de secreção de várias substâncias, ligadas à coagulação do sangue, à manutenção do peso, à interligação entre o tecido adiposo e o cérebro, além de hormônios. Um exemplo é o fato de que as células adiposas femininas na época da menopausa passam a formar um hormônio feminino chamado estrona (que é muito semelhante ao estradiol, clássico hormônio feminino).

A produção de estrona pelo tecido adiposo irá aliviar os sintomas desagradáveis da menopausa feminina, aliviando os fenômenos de sudorese noturna e calores. Por outro lado, as células adiposas em ambos os sexos produzem uma substância muito importante chamada leptina. A leptina se dirige ao cérebro onde atua em área especial chamada hipotálamo, avisando que já existe um excesso de gordura acumulada e que o indivíduo deve moderar a ingestão de comida.

Esse circuito bioquímico entre a gordura acumulada e o cérebro funciona muito bem para aqueles felizes seres humanos que são, por natureza, sempre magros. No gordinho parece que a leptina não consegue ter muito sucesso no sentido de comunicar-se com o cérebro, induzindo menor ingestão de calorias. Isso se deve à ausência ou defeito no receptor de leptina no hipotálamo.

Gordura acumulada é reserva de energia

O tecido adiposo é a nossa reserva de energia. Ele fornece "combustível" para que o músculo possa se contrair, utilizando a gordura liberada pelo tecido adiposo. É o que chamamos de "queima de gordura", ou em linguagem médica o gasto energético. A comunidade médica que lida com o problema do excesso de peso está muito interessada em que haja maior gasto energético para propiciar maior "queima" de gordura.

O esquema é bastante simples: quanto mais gastarmos energia acumulada e diminuirmos a ingestão de calorias, maior será a perda ponderal. Existem medicamentos que aumentam o gasto energético, mas com alguns efeitos colaterais inconvenientes. A ciência tem procurado descobrir medicamento que seja bastante eficiente no aumento do gasto energético, mas que não atrapalhe os outros sistemas ou órgãos. Esses produtos (em estudo) são muito semelhantes aos hormônios da glândula tiroide e já estão sendo empregados em pesquisas com pacientes.

O tecido adiposo marrom é um gastador Em roedores (ratos e camundongos) existe grande quantidade de um tecido adiposo muito especial de cor marrom, que se localiza no dorso do animal. Quando o animal é colocado em temperaturas muito baixas, como por exemplo, a 4ºC, imediatamente o tecido adiposo marrom é ativado de forma a gerar calor de forma extremamente eficiente. Em humanos, o tecido adiposo marrom é encontrado em recém-nascidos e durante o primeiro ano de vida.

Da mesma forma que nos animais experimentais, a criança tem nesse tecido uma forma rápida de gerar calor se, por ventura, estiver em ambientes frios. Com o passar do tempo, o tecido adiposo marrom aparentemente se atrofia, sendo raro encontrá-lo em adultos. No começo deste ano, três grupos de cientistas, com trabalhos independentes, confirmaram que o tecido adiposo marrom está presente em todos nós, mesmo na fase adulta da existência.

Da mesma forma que nas crianças, os métodos de imagem capazes de indicar a presença de tecido marrom confirmaram que ele aumenta a sua atividade quando o indivíduo é exposto ao frio. Compararam também as imagens da presença de tecido adiposo marrom em indivíduos de peso normal e em obesos. Verificaram, com grande surpresa, que os obesos tinham quantidades muito pequenas de tecido adiposo marrom, mesmo quando submetidos por algum tempo a temperaturas baixas.

Como o tecido adiposo marrom é uma excelente e eficiente máquina de "queimar gordura", os gordinhos estão em grande desvantagem em relação aos indivíduos magros, pois esses têm uma arma muito poderosa para transformar gordura em calor e, desta forma, manter o peso. Como o tecido marrom queima gordura As células do tecido adiposo marrom possuem um "maquinário celular" preparado para gerar energia armazenada.

No caso de ser acionado, o maquinário se modifica para que essa dissipação de calor seja a mais eficiente possível. Nesse processo, entram em cena os hormônios da tiroide e a formação de uma proteína especial que dirige a energia obtida da gordura corporal para gerar calor.

O processo é tão eficiente que um porcentual enorme da gordura acumulada no corpo é conduzido para a geração de calor. Isso significa um gasto energético excepcional, que se for associado à ingestão calórica diminuída levará a uma perda natural do peso. O problema é que somente os indivíduos de peso normal têm um sistema adiposo marrom altamente competente, enquanto que os gordinhos possuem poucas células deste maravilhoso queimador de gordura.

O passo seguinte, naturalmente, é saber por que os obesos teriam uma relativa atrofia do tecido adiposo marrom. Se nós conseguirmos desvendar este mistério, poderemos passar para o passo seguinte: induzir o aparecimento desse sistema eficiente de queimar gordura. Essas pesquisas recentes nos dão uma excelente perspectiva para a terapêutica da obesidade, seja em crianças ou em adultos, utilizando um mecanismo natural e fisiológico que o nosso corpo já possui.

Por Geraldo Medeiros 01-06-2009