sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

CIRURGIA PARA OBESIDADE? : reflexões clínico-cirúrgicas e conseqüências.

CIRURGIA PARA OBESIDADE: Reflexões clínico-cirúrgicas e conseqüências.

1). INTRODUÇÃO

A cirurgia da obesidade (cirurgia bariátrica) é um ato cirúrgico de grande porte e é realizada apenas por motivos relevantes em pacientes obesos mórbidos, com poucas exceções.
O cirurgião escolhido se reserva o direito de interpretar as razões para a modificação do trato digestivo e indicar ou contra-indicar a cirurgia baseada no julgamento clínico.

Há muitas cirurgias viáveis para pacientes obesos mórbidos incluindo o grampeamento do estômago (gastroplastia vertical), restrição gástrica com bandagem (bandagem gástrica), combinação de cirurgia restritiva e malabsortiva (gastroplastia vertical em Y do Roux), cirurgias estritamente disabsortivas (derivação biliopancreática), e colocação de balões no estômago. Evitar a cirurgia e tentar continuar a perder peso através de dieta e medicamentos também é factível e muitos pacientes preferem o tratamento clínico prolongado.

A maioria dos pacientes foi bem sucedida, mas não há garantia de benefício desta cirurgia. Para cada melhora em potencial, tal como controle do diabetes, normalização da hipertensão arterial, e dos níveis de colesterol, de artroses e lombalgias, podem ocorrer falhas.

Por exemplo, muitos pacientes obesos têm problemas respiratórios enquanto dormem (apnéia do sono). O problema respiratório nem sempre melhora com a normalização do peso, após cirurgia bariátrica.


2). QUAL SERIA A PERDA DE PESO ESPERADA?

É esperada uma perda de peso, após um ano da cirurgia, de pelo menos um terço ou metade do peso inicial do paciente. Isto acontece na maioria dos pacientes, mas alguns (poucos) não perdem peso ou, mais raramente, voltam a apresentar excesso de peso de volta. Mesmo em cirurgia de obesidade bem sucedida, a modificação gastrointestinal introduzida é considerada como auxílio à perda de peso e não é algum tipo de milagre ou garantia de sucesso.

O paciente deve cooperar e fazer mudanças no seu estilo de vida, com pequenas refeições diárias, cortando os lanches, bebendo apenas líquidos sem calorias, comendo vagarosamente e fazendo outras mudanças nos hábitos de comer e beber, bem como executando exercícios aeróbicos diários.


3). COMPLICAÇÕES DA CIRURGIA BARIÁTRICA

Quase todos os cirurgiões que fazem a cirurgia da obesidade têm complicações ocasionais. Todo o paciente terá risco real para uma ou mais complicações. Não há garantias que uma complicação séria não venha ocorrer em qualquer caso.

As mais freqüentes e sérias complicações que podem ocorrer são: " Infecção de parede, cavidade corporal (abdominal ou tórax), pulmões (pneumonia, por exemplo). " Inflamação ou infecção dos órgãos seguintes: pâncreas (pancreatite), estômago (gastrite ou úlcera gástrica), esôfago (esofagites com dor no peito, queimação, etc), fígado (hepatite), vesícula biliar (colecistite, cálculos), rim (pielonefrite), insuficiência renal, nefrite), bexiga (cistite), duodeno (duodenite, úlcera duodenal). " O baço pode sangrar durante a cirurgia e precisar ser removido. Isto pode aumentar seriamente o risco de infecção pós-operatória. " Coágulos das veias dos membros inferiores, pelve ou qualquer outro lugar do corpo podem se formar e chegar aos pulmões, causando dificuldades para respirar (embolia pulmonar).

Esses coágulos também podem resultar em edema ou ulcerações, temporárias ou permanentes, nas pernas. " Líquidos do estômago ou intestinos podem sair da cavidade abdominal, através do corte cirúrgico. Nestes casos deve-se usar drenagem para uma bolsa externa por período longo.


4). MODIFICAÇÕES PÓS-CIRÚRGICAS

Alterações no paladar e nas preferências alimentares ocorrem com freqüência. Muitos pacientes têm dificuldades em comer certos alimentos como carne vermelha, de consumo habitual antes da cirurgia. Algumas vezes após a cirurgia, pode ocorrer intolerância por certos nutrientes em alguns pacientes. Alimentos ou líquidos podem não passar pelo reservatório gástrico ou intestino, necessitando de dilatação por instrumentos ou endoscopia (que têm seus próprios riscos).

Tubos para alimentação podem ser passados para o estômago, intestinos, caso o paciente seja incapaz de comer ou beber o suficiente pela boca. Cirurgia pode ser necessária para corrigir os defeitos ou seqüelas mencionadas. Vômitos, náuseas, distensão abdominal, queimação precordial, diarréia, flatulência e fezes mal cheirosas, etc., podem ocorrer com freqüência após esse tipo de cirurgia e isto pode ser um problema ao comer certos tipos de alimentos.

De certo ponto de vista, pode ser um benefício desta cirurgia, pois previne a ingestão de certos alimentos e líquidos por medo do vômito e diarréia. Entretanto o paciente pode pensar seriamente em desfazer a cirurgia após a persistência destes sintomas. Sangramento do estômago, hérnia, abertura dos grampos cirúrgicos, necessidade de re-operação por estas ou outras razões, complicações de anestesia, problemas psiquiátricos como depressão que precisam de cuidados especializados são possibilidades resultantes da cirurgia bariátrica.

A estatística no Brasil mostra que aproximadamente 1% dos pacientes pode vir a falecer após a cirurgia da obesidade. A re-operação pode ser necessária e nenhum paciente deve se submeter a cirurgia de obesidade se não estiver disposto a aceitar essa possibilidade.
A internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pode ser necessária para observação ou tratamento de qualquer complicação que venha ocorrer da cirurgia.


5). ALTERAÇÕES TARDIAS DE CIRURGIA BARIÁTRICA

Após meses e anos, qualquer tipo de problema nutricional pode ocorrer, incluindo falta de vitaminas, proteínas, calorias, minerais, (absorção de ferro, magnésio e cálcio).

Sintomas destas carências nutricionais podem incluir mal estar, paralisias, confusão, exantemas, anemias, queda de cabelo, problemas de ossos ou articulações, ferimentos que cicatrizam com dificuldade, irritabilidade na língua, dormência. Após a cirurgia da obesidade é necessário tomar suplementos vitamínicos e acompanhamentos por médico endocrinologista bem experiente nesta área, por toda a vida.

O paciente pode precisar de injeções de vitaminas e / ou ferro todo o mês por longos períodos. Mesmo que o (a) paciente alcance a meta de perda de peso, não significa que estabilize este peso pelo resto de sua vida, podendo perder mais peso ou eventualmente ganhar peso após o emagrecimento inicial em qualquer época após a cirurgia.

Com a perda do peso, a pele dos braços, pernas, pescoço, abdome, face ou qualquer outro local pode tornar-se enrugada, curvando-se ou pendurando-se como uma grande dobra. Isso pode tornar-se totalmente irritante, embaraçoso ou evoluir com erupção da pele ou infecções e odores. Em conseqüência disto o paciente pode sentir a necessidade de outras cirurgias futuras (Plásticas cirúrgicas).