terça-feira, 22 de agosto de 2017

A dieta da genética

Geraldo Medeiros


A dieta da genética
A genética governa o nosso metabolismo interno, seja na parte de acúmulo e gasto energético, seja no setor de fome e saciedade. Portanto, nada mais claro e evidente que tenhamos que organizar para cada paciente um tipo de dieta que lhe é absolutamente individual, isto é, que atenda aos eventuais desvios que os genes desfavoráveis realizam, isto é, empurrando o paciente a se empanturrar de doces e carboidratos, a ter compulsão por chocolates, a ter o terrível hábito de consumir alimentos à noite (o famoso pic-night) bem como a voracidade com que ingere alimentos nem sequer permitindo que a esplêndida e eficiente comunicação entre o tubo digestivo e o cérebro (através de peptídeos intestinais como ghrelina, PYY, GLP-1) tenham a chance de se manifestar. Por outro lado, a ciência reconhece hoje que o sistema nervoso central, nas zonas hipotalâmicas do cérebro têm papel fundamental na ingesta e, mais importante do que esta, na seletividade do que comemos. Está lá tudo programado, isto é, quando devemos comer, quais os alimentos mais indicados, os menos desejados, enfim tudo organizado para uma perfeita harmonia. Mas, e este é um enorme MAS, os genes e o ambiente modificam toda a “harmonia da orquestra” para “desafinarem” e induzirem preferência total para, por exemplo, doces e carboidratos, chocolates e sorvetes, pic-nite e outros vícios de ingestão de “tranqueiras” a toda hora. Neste sentido é que se impõe a DIETA DA GENÉTICA, adaptada a cada caso clínico.


Genes, insulina e carboidratos
Vamos falar da genética predisponente a diabetes e obesidade. Por que estas duas condições clínicas andam juntas? Primeiro, porque os genes chamados de candidatos a induzirem diabetes e aqueles que são orientados a produzirem obesidade estão muito próximos e localizados na mesma região cromossômica. Seria isto um acaso? Algo fortuito? Apenas uma coincidência? Não acredito. A mãe natureza não seria tão absurdamente errônea ao colocar juntos os genes de diabetes e obesidade uma vez que, como se sabe, o excesso de peso leva, em longo prazo, apreciável número de pacientes ao diabetes. Acreditamos que os pacientes que possuem razoável número de familiares próximos com obesidade e diabéticos passam a gerar descendentes, cujas células Beta do Pâncreas (secretores do hormônio insulina) sejam muito sensíveis ao estímulo produzido por elevação do “açúcar do sangue”, isto é, a glicose circulante. Esta sensibilidade exagerada à elevação da glicose irá causar sérios problemas aos que são portadores de tais genes. Ingerida substancial porção de doces, pães, bolachas, massas, batatas, arroz, etc., todos estes alimentos são convertidos em glicose (açúcar do sangue). Esta glicose elevada conduz a uma super-hiper-resposta das células beta a soltar uma enormidade de insulina. Portanto, os genes desencadearam um fenômeno fisiológico totalmente errado e de consequências graves.

 
A ação negativa do excesso de insulina
A insulina após consumir todo aquele excesso de carboidratos ingeridos, “permanece elevada” na corrente sanguínea. Tal fato se chama de HIPERINSULINISMO. Provoca algumas lesões cutâneas nos cotovelos e nas dobras dos dedos, em que a pele fica escura (marrom) e áspera (chama-se de Acantose Nigricans) e é considerada pelos clínicos como uma expressão de continuada presença de insulina elevada na corrente sanguínea. Com o aumento da insulina vem a “fome compulsiva por doces”. Isto porque a insulina força a glicose sanguínea a descer abaixo do normal (hipoglicemia). O cérebro, sentindo que o açúcar do sangue baixou, inicia uma “gritaria”, dirigindo-se ao centro da fome, dizendo “o açúcar baixou” “é imperioso comer doces”. E a nossa gordinha, impelida por este sistema de alarme, parte para os doces, o chocolate, o sorvete, a caixa de bis, as barras de chocolate, os “sonhos de valsa”. Logo após este banquete de doces, a insulina logo se eleva e a situação se repete, criando um círculo vicioso.

A insulina em excesso induz mais gordura acumulada
É absolutamente verdade. O excesso permanente de insulina induz ao fenômeno da LIPOGENESE, isto é, à formação de gordura a partir dos carboidratos ingeridos. Portanto, mais gordura é formada e estocada nas células de gordura (adipocitos), os quais aumentam de tamanho (mas não de número) para armazenar o excesso de GORDURA. Mais uma vez, temos que acusar a insulina de outro “crime nutricional”. Quando a gordinha começa a fazer exercícios para “queimar” a gordura acumulada, a insulina se opõe à “queima de gordura” (isto é à LIPOLISE). É o supremo opróbio: a insulina não deixa a gordinha perder o peso adquirido na fase da “loucura” por doces e chocolates.


A relação da dieta com a genética
Depois de tudo o que se falou sobre insulina exagerada após doces ingeridos, temos que orientar os pacientes com estes genes indutores de obesidade a uma dieta que os retirem do círculo vicioso em que se meteram. Para começar uma dieta de 30 dias muito baixa em alimentos que se convertam rapidamente em glicose (o açúcar do sangue). Nada de doces, sorvetes e chocolates (com muita sacarose, açúcar da cana), arroz branco, farinha refinada, massas com ovos, batatas, farinha de mandioca, sorvetes, bolachas, pipocas “tranqueiras” variadas, paçoquinhas, caixas de BIS, balas com açúcar e por aí vai.Usar pão integral, arroz integral, massas tipo “grano duro”, adoçantes, não comer bananas (única fruta proibida) e muita proteína (carnes magras, peixes, frango, peru, queijos brancos, ovos (3 claras, 1 gema), com legumes e verduras e “montes” de saladas. A sobremesa será sempre de frutas. Comer gelatina, queijo light, peito de peru defumado nos intervalos das refeições. Com este tipo de alimentação e muito exercício aeróbico para baixar a insulina ocorre a perda de peso. E para manter o peso? Restringir carboidrato a 2-3 vezes por semana e manter exercícios aeróbicos.