segunda-feira, 28 de agosto de 2017

As doenças da tireóide estão aumentando?

Geraldo Medeiros


Prevalência de moléstias da tireoide na população.

Tanto os pacientes como os médicos notaram que nestas duas últimas décadas, um número crescente de pessoas surgiu com alterações da tireoide, esta importante glândula situada na região cervical, que produz dois hormônios: a tiroxina (chamada de T4) e a tri-iodo-tironina (conhecida como T3). As denominações provêm do fato de que a T4 possui 4 átomos de iodo e a T3 apenas 3 átomos de iodo. Quase toda a tiroxina secretada pela tireoide perde um átomo de iodo e se transforma em T3 o qual é a forma ativa de hormônio tireóideo, executando as tarefas metabólicas (aumento do gasto energético, maior consumo de oxigênio, “queima” de gordura) bem como propiciando o crescimento das crianças, estimulando a geração de proteínas cardíacas, acelerando a excreção de sódio pelos rins, e muitas outras funções. Portanto, quando faltam os hormônios da tireoide surge o HIPOTIREOIDISMO, isto é, pouco hormônio da tireoide está disponível. É evidente que se um(a) paciente tem sua tireoide retirada por cirurgia, em sua totalidade, não haverá produção de hormônios tireóideos e, fatalmente, ocorre o HIPOTIREOIDISMO, o qual deve ser tratado com um comprimido de Tiroxina por toda a vida. Mas a tireoide pode, também, funcionar demais, ou seja, o paciente tem HIPERTIREOIDISMO (muito hormônio é secretado pela tireoide). Neste caso nota-se logo o emagrecimento, perda de força muscular, excessivo batimentos cardíacos (taquicardia, arritmia) fome exagerada, número de evacuações aumentadas e em cerca de 10% dos pacientes surge alterações oculares (olhos saltados para fora, com inflamação).


O HIPOTIREOIDISMO está aumentando na população.


A falta de função da tireoide é bem mais comum em mulheres e se eleva com a idade. A causa mais comum decorre da auto-agressão do paciente a sua própria tireoide. O mecanismo é relativamente simples de se entender. O(a) paciente pode herdar genes que a predispõe a ter este tipo de comportamento. Os genes que induzem a chamada auto-agressividade contra a própria tireoide já foram, parcialmente, identificados. Para nós basta olhar a família do(a) paciente. Quando existem muitos parentes próximos afetados com doença de tireóide, existe mais chance da descendência de vir a apresentar doença auto-imune da tireoide. O fenômeno parece ser dependente de permissividade ambiental, Isto é, existe uma predisposição genética, mas é importante um fator desencadeante ambiental. Este fator ambiental seguramente é o excesso de iodo. Quando uma população vive, anos a fio, com excesso de iodo na alimentação, a tireóide (cheia de iodo) torna-se “a bola da vez” para o nosso Sistema Imunitário. Este, achando que a tireóide muito iodada, não pertence ao corpo que a abriga, passa a gerar anticorpos contra a tireoide, os quais inicialmente causam inflamação e, logo, inicia-se um ataque destrutivo às células tireóideas. Com o tempo vem a falta de produção de hormônios e a paciente torna-se HIPOTIREOIDIANA, isto é, sem produção de hormônios da tireóide. Esta doença também é chamada de Tireoidite crônica ou Doença de Hashimoto e, em nossa população da cidade de São Paulo chega a atingir cerca de 16% das mulheres e 4% dos homens. Isto porque durante 1998 e 2004 o nosso sal (para uso humano) esteve excessivamente iodado. MUITO IODO torna a glândula tireoide mais antigênica, isto é, atrai anticorpos anti- tireoide. A solução é o tratamento diário, uso contínuo, de comprimido de Tiroxina, todos os dias pela manhã, em jejum.



Os nódulos e cistos da tireoide.

A presença de nódulos e cistos tireóideos também aumenta com a idade podendo chegar a estarem presentes em 50% dos idosos, sendo mais frequente em mulheres. Com o advento de aparelhos para realizar exames ecográficos (ultra-som) da região cervical anterior, o diagnóstico de nódulos e cistos da tireóide tornou-se mais fácil e generalizado. Muitos especialistas (como ginecologistas) solicitam a ultra-sonografia de tireóide na avaliação anual das mulheres que os procuram para uma avaliação geral. Com o uso de ultra-sonografia passou-se a ter a possibilidade de detecção de nódulos (cistos) com bastante nitidez, até de 3 milímetros de diâmetro. Mas o consenso médico atual indica que nódulos muito pequenos, de menos de 5 mm são considerados como achados ocasionais e, geralmente, não necessitam de investigação mais sofisticada.Presença de malignidade no nódulo tireóideo.Esta é a grande preocupação do(a) paciente quando o exame de ultra-sonografia indica a presença de nódulo ou cisto na tireoide. A primeira consideração que se deve fazer é o tamanho. Nódulos muito pequenos não precisam de maiores investigações a não ser que estejam em regiões da tireoide consideradas como criticamente vulneráveis, ou seja, o istmo da tireoide (a ponte que une o lobo direito ao lobo esquerdo). O médico ultra-sonografista, com muita experiência, classifica os nódulos e cistos examinados como I (seguramente benigno) II (provavelmente benigno) III (pode ser maligno) IV (chance maior de malignidade). Esta classificação se baseia no tamanho do nódulo, no limite de suas bordas com o tecido normal, com eventual presença de calcificações, e outros detalhes técnicos. Os cistos quase sempre são benignos. Quando o nódulo apresenta grau III ou IV a punção biópsia por agulha fina se impõe. Esta técnica é muito difundida e quase sempre orientada pelo aparelho de ultra-som, permitindo ao médico entrar com a agulha no nódulo e aspirar as células. Logo após, o aspirado é colocado em lâminas e examinado ao microscópio. Combinando os achados ultra-sonograficos e o exame das células obtidas na punção pode-se chegar a um diagnóstico bastante seguro. Aproximadamente 1 em cada 5 nódulos pode ser maligno. Neste caso o tratamento é cirúrgico seguido de iodo radioativo. O índice de cura total é muito elevado (90-95%) e o(a) paciente deverá tomar um comprimido de Tiroxina, em uso contínuo.