segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Anorexia nervosa

Prof. Geraldo Medeiros

Notícias do Reino Unido

Recente estudo pediátrico conduzido na Grã-Bretanha revelou que, em um ano, 206 meninas pré-adolescentes (até 12 anos) relataram aos médicos que tinham sérios problemas de alimentação com “virtual pavor” de engordarem. Usavam métodos conhecidos de disfunção chamada Bulimia, ou seja, abuso de laxativos, provocavam o vômitos após refeições e evitavam alimentar-se em público. Pasmem todos: entre o grupo de meninas havia uma criança de apenas 6 anos!

Este fenômeno é enquadrado no grupo de “Moléstias da Nutrição” (Eating Disorders) e causa sérios distúrbios na saúde da adolescente, no relacionamento com a família e no ambiente escolar, podendo, inclusive levar à morte, como todos nós tivemos ocasião de ler nos jornais e na televisão sobre a ditadura instalada por alguns estilistas de moda de que “magreza nunca é demais” quando se referem às Top-Models dos Fashion shows periodicamente realizados.



Prevalência dos distúrbios da alimentação

Percorrendo a literatura médica sobre o tema encontra-se que a Anorexia Nervosa (“pavor de comer e engordar”) é a terceira perturbação mais comum entre adolescentes. A Bulimia Nervosa (laxativos em excesso, vômitos provocados) é hoje considerado um problema de saúde pública em sociedades de países desenvolvidos.

A prevalência seria de cerca de 3 a 4 anoréticas por cada 1000 adolescentes e de 10-12 adolescentes com bulimia nervosa / 1000. Retornando a um lado mais ameno dos distúrbios da nutrição as estatísticas indicam que 40-60% das meninas do 2° grau na Austrália estavam fazendo “dieta” para perder peso. O mesmo número percentual surge em inquéritos nutricionais realizados nos EUA onde 55% das meninas declararam que estavam em dieta para perder peso e tinham muito medo de engordar. Estes números refletem o fato de que o modelo feminino de beleza é representado na mídia pela magreza excessiva, em jovens de elevada estatura, onde a moda feminina exerce um poder ditatorial e exigente, comandando que se eliminem uns poucos quilos para se enquadrar em determinado tipo de beleza padronizado.


Fenômenos socioculturais estão na base da ANOREXIA

Em vez de se falar em Distúrbios Nutricionais, talvez possamos dizer que estamos lidando com Problemas de Dietas Absurdas, nas quais as adolescentes (principalmente) buscam, a qualquer preço, chegar a um tipo de figura feminina extremamente magra, com corpo perfeito, medidas ideais, sem nenhum defeito cutâneo ou subcutâneo (a famosa celulite). No entanto embora grande número de meninas procura ter peso ideal apenas uma minoria (1%) terá anorexia nervosa ou bulimia (3%). Os psiquiatras nos afirmam que estes tipos de moléstias da nutrição são, basicamente, distúrbios afetivos nos quais a depressão tem papel importante. Argumenta-se, igualmente, que o mecanismo seria disfunção de um importante agente neuromodulador, a serotonina cerebral. Por outro lado a chamada disfunção obsessiva – compulsiva é mais freqüente em meninas com anorexia/bulimia, bem como fobias (medo exagerado) e ansiedade presente em elevado grau.


Uma razão química para a Anorexia Nervosa

O tubo digestivo está continuadamente “falando” com o cérebro. Assim que o alimento chega ao estômago a parede estomacal manda uma mensagem ao cérebro dizendo: “pare, já temos alimento aqui para digerir”. Simultaneamente o intestino ao receber o alimento (pré-digerido no estômago) manda substâncias químicas (PYY, GLP-1) aos centros cerebrais induzindo a SACIEDADE. Verificou-se, muito recentemente, que as meninas com Anorexia Nervosa têm exagerada produção destas substâncias que induzem SACIEDADE e portanto perdem a fome e o interesse na comida.O risco médico da Anorexia Nervosa.A Anorexia Nervosa é uma condição clínica muito séria, com efeitos danosos na saúde feminina e com mortalidade que pode atingir 20% das pacientes em 10 anos (inanição, arritmias cardíacas, falta de potássio, excessiva acidez da circulação, suicídio). Por outro lado, os resultados de tratamento médico com vários esquemas terapêuticos, a que se associa a psicoterapia, indicam que cerca de 40-60% dos pacientes podem vir a atingir peso normal. A obsessão por dieta, todavia é difícil de eliminar persistindo em 67% dos pacientes. Quanto mais longo for o tempo de instalação da Anorexia Nervosa mais difícil é a recuperação integral da paciente.É preciso, portanto, que os pais estejam atentos às meninas que tenham aquele medo obsessivo de “engordar”, evitando alimentar-se junto a família, mostrando ansiedade, insônia e sintomas de depressão, indicando fase inicial de Anorexia Nervosa. Procurem o médico, os centros especializados em Moléstias da Nutrição, apelem para auxílio psiquiátrico, verifiquem a necessidade de auxílio medicamentoso o mais cedo possível, porque quanto mais precoce for a intervenção, melhor o prognóstico para retornar a normalidade.