segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Adoçantes engordam ?

Experiências com ratos nem sempre são aplicáveis a humanos.
 
Causou grande celeuma e confusão, produziram discussões acaloradas e debates na mídia o artigo científico publicado na revista “Behavioral Neuroscience” por dois pesquisadores da Universidade de Purdue, Indiana, Estados Unidos. Neste trabalho científico, dois grupos de ratos foram testados durante cinco semanas sob o aspecto de ser oferecido, ao primeiro grupo de animais, iogurte adoçado com açúcar comum (sacarose). Ao segundo grupo de roedores, os pesquisadores usaram o iogurte adoçado com sacarina. Os objetivos seriam avaliar a quantidade de ingestão dos alimentos contendo açúcar comparativamente aquela consumida pelos animais aos quais foi ofertada iogurte com sacarina.

Durante o decorrer das cinco semanas, os biólogos notaram que os ratos ingeriam mais iogurte com sacarina do que os outros que tinham acesso ao iogurte açucarado. Enorme surpresa, pois todo mundo sabe que a Sacarina, adoçante descoberto no final do século XIX, tem sabor adocicado, mas deixa no paladar uma sensação de “AMARGO”. Para nós, seres humanos, o uso exclusivo de sacarina foi substituído por outros adoçantes que não têm este gosto amargo no final. Além da surpresa de verificar que os “ratinhos” comiam mais o iogurte com sacarina, os pesquisadores, admirados, verificaram que os animais comedores de sacarina estavam ganhando peso, algo bastante intrigante e não esperado.

Neste ponto da pesquisa poderíamos pensar: será que rato gosta mais do “AMARGO” da sacarina do que o “doce” do açúcar? É uma conclusão a ser pensada e debatida.



 

A questão da energia potencial do alimento.

Mas os pesquisadores não pararam por aqui. Passaram a medir dados bioquímicos relativos ao acúmulo de energia alimentar nos dois grupos de animais. Obviamente os roedores que, gostosamente, se locupletavam de iogurte com açúcar, receberam mais energia calórica (pela sacarose) do que os ratos que consumiam sacarina (a qual não tem valor calórico nenhum). Afirmam os cientistas que os “ratinhos” através de seu “computador central”, isto é, as áreas cerebrais que controlam o metabolismo energético (tanto entrada de energia como gasto energético) ao verificarem que o iogurte com açúcar era mais calórico enviava ordem para que os roedores ingerissem menor quantidade do iogurte, pois o açúcar consumido já bastava para o gasto energético daquele dia. Ao contrário quando as áreas cerebrais detectavam que a ingestão de iogurte com a sacarina nada de energia entrava para cobrir a necessidade calórica, induziam os ratos a comerem mais e mais iogurte. Ao fim de 5 semanas, os roedores “sacarinados” haviam ganho peso. Uma grande crítica ao trabalho foi apresentada neste ponto: os autores do trabalho deveriam ter acrescentado ao desenho da pesquisa um terceiro grupo de animais ao qual seria oferecido apenas iogurte natural (sem açúcar e sem sacarina). Este grupo seria um controle adequado para testar as conclusões da pesquisa.

A validade das conclusões para seres humanos.
Embora as conclusões dos pesquisadores sejam adequadas e mesmo atraentes para o comportamento dos roedores, a explicação do ganho de peso para os que ingeriram sacarina, para boa parte dos endocrinologistas, nutrólogos, e cientistas é ainda pouco convincente. Suponhamos, por hipótese, que o rato tenha um paladar que aceita melhor o “amargo” da sacarina do que o “doce” do açúcar. A explicação para o ganho de peso seria apenas uma questão de melhor aceitação da sacarina com maior ingestão pelo animal experimental. Mais uma vez, repetimos: o ser humano é bem mais complexo que o rato e simples experiências de refeições A ou B podem não ser totalmente aplicáveis a nós, seres humanos.



 

Os adoçantes “engordam”?

Esta conclusão que, apressadamente, alguns setores da mídia tentaram tirar deste artigo científico é totalmente errônea. O uso judicioso de adoçantes para substituir o açúcar visa não só baixar o total calórico ingerido, mas também evitar que pâncreas produza mais insulina, poderoso hormônio o qual é vinculado à maior formação de gordura a partir das refeições que fazemos. Portanto, para muitos obesos, o açúcar e alimentos que o contém são contra indicados, mormente, quando existe tendência para diabetes.

Na opinião de muitos endocrinologistas o uso de adoçantes é um precioso auxílio nutricional para corrigir a crescente prevalência de obesidade no mundo todo.



Dr. Geraldo Medeiros-Neto