quarta-feira, 5 de julho de 2017

A insônia como causa da obesidade


Geraldo Medeiros

As múltiplas causas da alta prevalência de obesidade.Como amplamente noticiado pelas revistas médicas, pelos periódicos, pela televisão e tantos outros meios de comunicação, a obesidade está aumentando em todo o mundo. Em alguns países como os Estados Unidos e a Grã Bretanha já atingem 60% da população (com sobrepeso e obesidade). Concomitantemente, este maior número de obesos(as) concorre para elevar a prevalência de diabetes, o que assusta as autoridades de saúde tanto pelo maior risco de dano à saúde individual como pelo altíssimo custo social que representa esta associação obesidade e diabetes. Argumenta-se que a nossa dieta evoluiu do consumo mais saudável de alimentos naturais (carnes, vegetais, frutas, legumes, cereais) para nutrição quase que exclusiva de alimentos processados industrialmente. Nestes estão incluídos as refeições pré-cozidas, condimentadas, prontas para o micro ondas, mas com preservativos químicos, antioxidantes, corantes diversos, sabores artificiais. As deliciosas pizzas, os hamburguês, as batatas fritas, os salgadinhos, doces, balas, chocolates, estão em todos os locais desde os supermercados como nos bares da esquina e nos ambulantes que se espalham pela cidade. Argumenta-se, ainda, que nós passamos a ser muito sedentários: o automóvel, a moto, o elevador, a escada rolante nos privam do mínimo de exercício saudavelmente recomendado pelos médicos. Neste evoluir dos anos vindouros, a prevalência de obesidade continuará a crescer, preocupando os Governantes tanto do ponto de vista de Saúde Pública como nas consequências econômicas que trará.




Pouco sono, muita obesidade.


Notou-se nos EUA que a média de horas de sono tem decrescido em paralelo com a curva ascendente de obesidade e diabetes. Um inquérito conduzido nos EUA indicou que o americano médio dormia cerca de 8 a 9 horas por noite em 1960 e que este excelente período de repouso noturno decresceu para cerca de 7 horas em 1995. Hoje em dia observa-se que 30% dos adultos (entre 30 e 64 anos de idade) estão com menos de 6 horas de sono por noite, o que tem sido considerado pelos fisiologistas como totalmente insuficiente para efetivo repouso noturno.Médicos que estudaram a relação entre privação de sono e mecanismos metabólicos concluíram que:
  • A falta de sono leva a maior resistência a ação de insulina (possível futuro diabetes).
  • A falta de sono induz as células do pâncreas (células beta) a deixarem de produzir mais insulina, quando o corpo já apresenta Resistência à Insulina.
  • A falta de sono faz com que as células adiposas reduzam a produção do hormônio “Leptina” o qual é poderoso indutor central de menor ingestão de alimento.

Estes três aspectos metabólicos são, em seu conjunto, indutores de obesidade.

Neste ponto o leitor pode ter dúvidas, pois o assunto está bastante técnico. Mas vamos esclarecer porque a falta de sono conduz à obesidade. Devemos aceitar que os três pontos apresentados são reais e verdadeiros. Resulta que a falta de sono AUMENTA a insulina na circulação. Este hormônio responsável pela entrada do “açúcar” (glicose) no músculo tem ações na célula adiposa que são, primordialmente as seguintes: AUMENTA a geração de gordura a partir do que comemos e impede a “queima” de gordura quando gastamos energia. As duas ações combinadas levam a obesidade.


Aspectos práticos da pesquisa sobre sono

Como há muito “gasto” de insulina com a privação do sono é evidente que, um dia, o pâncreas “cansa” e deixa de fabricar “insulina” de forma adequada, havendo a possibilidade de surgir o diabetes.

Este risco de diabetes aumenta consideravelmente se o “gordinho(a)” é do tipo comedor noturno, isto é, aquele que, não conseguindo dormir, encaminha-se, sorrateiramente, à copa, abre a geladeira e faz a festa com os deliciosos “restos” de doces, sorvetes, fatias de pizza fria, embutidos, etc. Além disso come biscoitos, devora metade do bolo, avança no chocolate, abre lata de leite condensado, arranca pedaços do panetone.

Este tipo de “comedor noturno” não é raro no dia a dia do endocrinologista e as recentes pesquisas sobre a falta de sono só acrescentam argumentos convincentes que o obeso deve ter horas de sono adequadas, e desde que necessário sob intervenção medicamentosa. A equipe de cientistas que estudou o assunto está, agora, ampliando a pesquisa para verificar se o aumento de horas de sono será um fator que poderá diminuir, em populações com alta prevalência de obesidade, a curva ascendente de maior número de obesos. É uma pesquisa interessante e importante tanto a nível individual como populacional. Portanto, durma mais, coma menos e mantenha o peso adequado.