terça-feira, 21 de novembro de 2017

Comer de 3 em 3 horas emagrece?

Geraldo Medeiros

A contínua “conversa” entre o estômago e o cérebro

A sensação de fome surge, como todos sabemos, depois de um período sem alimentação de várias horas sendo, popularmente, definida por frases como “meu estômago está roncando”, “sinto um vazio na barriga” e por aí vai. Portanto desde há séculos já se sabia que o nosso aparelho digestivo, de alguma forma, envia sinais para a área cerebral avisando que falta comida. Algumas pessoas podem passar longas horas sem comer, sempre atarefadas, absorvidas em suas atividades, pressionadas para terminar uma tarefa, um projeto, um importante trabalho. Nestas ocasiões o sinal do estômago pode estar falhando, mas o mais provável é que o cérebro, nosso computador central estaria tão ocupado, tão ativo e tão concentrado no projeto, no trabalho, que deixa de receber os sinais desesperados do estômago vazio. Mas no comum de todos os dias a maioria das pessoas acorda e, após a higiene pessoal, se dirige à mesa para o café da manhã, o qual pode ser frugal (o mais comum em nossos hábitos alimentares) ou muito copioso (como “break-fast” dos anglo-saxões). Não é raro o comentário de crianças, adolescentes e pessoas adultas de afirmarem “nada como de manhã, não tenho fome”. Possivelmente os sinais do estômago não estão sendo emitidos ou o sistema central já se acostumou com a ideia de que não é necessário comer pela manhã. Estas pessoas estão totalmente erradas sob o ponto de vista nutricional. O sistema metabólico, pela manhã, ainda está lento após horas de sono. Para que inicie os procedimentos de “queima” calórica, é necessário que o alimento chegue ao tubo digestivo.


Os sinais químicos do tubo digestivo

O estômago, quando vazio por período superior a 4-5 horas passa a secretar uma substância chamada GHRELINA a qual é portadora da mensagem ao cérebro que poderíamos simplificar como “nada chegou aqui sob forma de alimento. Por favor, ligue e ative o Centro da Fome”. Habitualmente nós obedecemos a esta mensagem e sentamos à mesa para a refeição programada. No caso da pessoa não atender a “mensagem” do cérebro o teor de GHRELINA vai se elevando na circulação atingindo níveis muito elevados. Na próxima refeição, à noite, o apetite é voraz, a fome é imensa, e a pessoa que “pula” refeições vai exagerar no total de calorias ingeridas. Além disso, o nível de GHRELINA muito elevado, conduz ao fato de que boa parte do alimento ingerido será transformado em GORDURA, isto é, em reserva calórica. Tal procedimento tem sua lógica, pois o nosso extraordinário corpo humano, após um jejum prolongado, tem a preocupação de “armazenar” energia sob forma de GORDURA, pois não sabe se os jejuns irão se repetir. Vem destes novos conhecimentos o conceito de que teríamos de fracionar nossas refeições diárias (a famosa idéia de comer de 3 em 3 horas). Na prática este sistema muito rígido pode não funcionar. O que se aconselha, portanto, é fazer o café da manhã adequado (não exagerando), comer no intervalo da manhã um copo de gelatina, alternando com queijo, peru defumado e outros alimentos protéicos. Almoçar no horário previsto, comer mais um queijo branco à tarde, jantar e uma barra de cereal à noite. Com este sistema mantém-se a GHRELINA em nível baixo e menor quantidade de gordura seria armazenada.


A importância dos impulsos químicos do intestino

Quando a ciência médica já sabia tudo a respeito da GHRELINA gerada pelo estômago, vários pesquisadores notaram que algumas regiões do intestino delgado também enviavam mensagens ao cérebro. Estas substâncias químicas (PYY, GLP-1) foram denominadas de incretinas, pois, além de avisar o cérebro que teria chegado material alimentar volumoso para digerir e absorver, excitavam o pâncreas a fazer mais insulina (podendo ser úteis no diabetes). Fundamentalmente a GLP-1 excita o Centro da Saciedade fazendo com que a pessoa tenha aquela sensação de plenitude alimentar e interrompe o ato de comer. Mas é preciso saber alguns detalhes. No caso do glutão comer depressa demais a GLP-1 não é formada e não irá avisar o cérebro. Portanto muita atenção: COMA DEVAGAR.Outro ponto importante: a ingestão de doces, sorvetes, chocolates, bolachas, pão de queijo, etc., os chamados carboidratos de elevado índice glicêmico, NÃO SÃO estimuladores da secreção da GLP-1 e, portanto, ficar comendo “tranqueiras” o dia todo não leva à saciedade almejada.Recomenda-se, portanto, que as refeições fracionadas, entre as principais do dia a dia (café da manhã, almoço e jantar) sejam alternadas com pequenas porções de PROTEÍNAS (queijos brancos, peru defumado, barras proteicas, gelatina). As proteínas são altamente estimuladoras da secreção de GLP-1 e, consequentemente, com capacidade de induzir saciedade. Com maior saciedade a aderência a uma dieta hipocalórica é mais fácil e a perda do excesso de peso mais adequadamente atingida. Repita-se, mais uma vez, que a alimentação fracionada, com pequenas porções de proteínas nos intervalos, é capaz de induzir mecanismos internos, metabólicos, que ajudam o gordinho(a) a perder mais peso sem o suplício da fome. Experimente e comprove.